22.3.09

geografia.

Os sons são abafados dentro da cela que chamamos de quarto; o cômodo mais cômodo quando este lhe pertence, mas posso ouvir os passos do vizinho do andar de cima. O lápis que rabisca rapidamente a página faz um som baixo, quase imperceptível.

O livro de geografia me encara, esperando que eu o analise para o teste de quarta feira. Suspiro. "Costuma-se dividir a sociedade capitalista em duas principais classes sociais". Suspiro. Vou à cozinha beber água? "A burguesia: composta de capitalistas, donos dos meios de produção ou empresas; e o proletariado: constituído por aqueles que não possuem meios de produção e (...)" Bem, isso é um livro de geografia. Por que o conteúdo de história está dentro dele? "O capitalismo, embora tenha começado nos séculos XV e XVI, só se tornou sistema dominante, atingindo seu estado pleno, com a Revolução Industrial e (...)" Suspiro. É, vou beber água.

O som do lápis a rabiscar é encerrado, timidamente substituído pelo som oco de meus passos, que me levavam em direção à cozinha.

21.3.09

insônia.

Não estou cansada o suficiente
para deitar-me e dormir com calma.
Os pensamentos surgem espontaneamente,
como se donos de uma própria alma.

A lua pela janela me encara,
doce e serena luz a brilhar.
Mas continuo com borboletas no estômago
e mais reflexões para me incomodar.

A insônia me faz comprovar
o quão sou uma máquina pensante.
Porém usualmente me sinto mais
como uma icógnita ambulante.
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dica: a segunda estrofe ficou um lixo.

16.3.09

sensações.

Acho que vi algo. Eu vi realmente ou somente imaginei ver? Senti um calafrio, por algum motivo inexistente, me arrepiando por completo. Parece que ouvi um sussurro baixinho, incrivelmente perto de minha orelha. O modo de respirar das pessoas começa a me irritar. Tudo parece girar em torno de mim, devido a tontura que me obriga a dar passos errantes, destruindo o pouco de equilíbrio que possuo. Eu sou louca ou o mundo é louco?

Estou a ponto de acreditar que somos nós dois inteiramente malucos.

10.3.09

dançar.

(carta)
"Quanto a dançar, minha querida, eu nunca danço, a menos que me seja permitido fazê-lo de minha própria maneira peculiar. É inútil tentar descrevê-la: só vendo para acreditar. Na última casa em que tentei, o piso desabou. (...) Alguma vez você já viu o Rinoceronte e o Hipopótamo, no Jardim Zoológico, tentando dançar um minueto juntos? É um espetáculo comovente".

por Charles Lutwidge Dodgson, ou Lewis Carroll.