27.4.09

nota máxima?

As provas já tinham sido corrigidas. O professor explicou, calmamente, que só entregaria os testes no dia seguinte, apesar de todos já estarem devidamente com suas notas. Alguns alunos sorriam uns para os outros, dizendo que provavelmente tirariam 10.


O pânico foi intenso em uma das alunas. Ela, mexendo em seu cabelo de maneira nervosa, não conseguia esconder seu medo. A aula seguiu-se tediosa, e a estudante não conseguia prestar atenção alguma nos números diversos da lousa. Ao tocar a sineta do fim da aula, o professor saiu tão apressado da sala quanto os alunos, esquecendo as provas sobre a mesa. Uma tentação para a garota que permaneceu mais tempo na sala que o usual.


Quando a sala de aula encontrava-se devidamente vazia, ela deu passos incertos até a mesa do professor. Desistiu de refletir sobre seus atos: achou sua prova rapidamente, seguindo a ordem alfabética. “Luciana Melo: 3,0”. Foi um tanto decepcionante para a garota que queria tanto fazer arquitetura, tirar um 3,0 em um teste de geometria. Não pensou duas vezes ao pegar a caneta do estojo e alterar o 3,0 para um 8,0. Saiu mais tranquila, e somente depois de longos minutos (quando Luciana já estava longe da sala de aula) o professor lembrou das provas deixadas dentro da classe.


No dia seguinte, a garota se apresentava mais calma. Dizia que não iria tirar nota baixa, que é boa em geometria. Então, chegou a hora da entrega das provas. O professor levantou-se e olhou de modo divertido para a classe.


- Bem, vou entregar agora a nossa última prova. Sabe, aquela cuja nota máxima era 5.

24.4.09

comédia romântica vs. suspense.

O casal estava discutindo há aproximadamente uma hora; ele fora até a residência da namorada, que o esperava pontualmente na calçada, arrumada dos pés até o último fio de cabelo. Marcaram de sair ao sábado à noite, iriam ao cinema. A discussão começou assim que ela entrara no carro, logo depois da pergunta “qual filme iremos assistir?”.


Um queria ver a comédia romântica que estreara há pouco, o outro desejava assistir um ótimo suspense que estava em cartaz no mesmo horário da comédia romântica. Os argumentos eram incontáveis, um atacava o outro dizendo que um filme tem de fazer as pessoas saírem alegres e dar prazer a quem assiste, fazer rirmos e chorarmos de felicidade. O outro contra-atacava, dizendo que o filme tem como objetivo emocionar, não importa qual emoção seja: os arrepios na nuca, torcer para que o personagem principal sobreviva. “E este personagem sempre morre”, resmungava de volta.


Chegaram, e em frente ao cinema ainda decidiam qual filme assistir. A guerra partira do gênero para a sinopse. “Uma história sobre um assassinato em uma ilha é bem mais interessante que um casal que se separou e agora luta para achar um novo amor”, falou um. O outro disse que um casal que se separa pode render até assuntos dramáticos e sérios, e sem a necessidade de morrer alguém ao fim. A resposta fora que um filme dramático seria indicado ao Oscar, e não ao Globo de Ouro. O outro continuou a resmungar: “quem liga para premiações?”.


O elenco foi discutido. O diretor. Até a trilha sonora (“admita que pop dá mais alegria a alma que uma trilha sonora somente instrumental”).


No fim, a garota deu um gritinho e enfim cedeu.


- Está certo, Rodrigo, eu assisto essa droga de comédia romântica. Agora, se for melosinho demais, você vai me devolver os sete reais.

17.4.09

"mas é um clássico!"

Acho que livrarias são lugares bem agradáveis. Não só por causa das pilhas de livros - sim, é o melhor de uma livraria, e o motivo principal das livrarias existirem -; mas também por seu cheiro diferenciado, e elas me parecem também aconchegantes. Não sei como definir, um ar quente e macio, ou algo do gênero.

Além dos fatores "livros" e "ambiente" em si, existem as pessoas que estão nas livrarias. Minha concentração em ler só é inteira quando estou em casa, então, tenho que admitir que algumas vezes finjo estar compenetrada em um livro, enquanto na verdade estou observando as pessoas por cima das páginas que estão na minha frente, ou talvez olhando os outros somente pelo canto do olho. Muitas pessoas de livrarias são boas de se observar, mas acho que as que eu mais gosto de ver são as pseudocults da minha idade, quando estão com livros já adaptados para o cinema (as que leem Crepúsculo me fazem rir), principalmente quando acompanhadas de amigos. No caso, não foi uma pessoa da minha idade:

Eu estava sentada no sofá da Siciliano, enquanto minha mãe saia pelo shopping afora. Não me lembro de qual livro estava em minhas mãos, acho que um da Meg Cabot, de história bem leve. Engolia o livro assim como o sofá me engolia (estava eu afundada nele, e não era algo ruim), mas a conversa de uma garotinha me prendeu a atenção.

O nariz empinado, o cabelo liso e curto, os óculos escorregando do nariz. A menina deveria ter por volta dos seis anos, e estava acompanhada de um garoto mais velho, da minha idade, talvez. O garoto, que presumi ser seu irmão, parecia entediado. A menininha estava vasculhando livros, com o ar altivo. Não os livros infantis, com imagens de princesas com vestidos rosas na capa dura de papelão, e sim a série de Harry Potter. Ela pega o mais grosso dentre eles, e anda pela livraria inteira com o livro debaixo do braço. Procura por mais livros. Ela olha para O Código da Vinci seriamente, mas desiste de pegá-lo.

O seu irmão parece impaciente. "Vamos, vamos, quero ainda ir até o McDonald's". A menina anda até o garoto e diz que vai ler um pouco. O garoto olha para ela como se quisesse arrastá-la para fora da livraria. "Qual foi o livro que você pegou?", ele pergunta. Ela responde, com ar sério, lendo da capa do livro: "Harry Potter e a O-or-dem da... Fê...". Era claro que ela tinha se alfabetizado recentemente. O irmão disse o título do livro para ela, e que se ela estivesse interessada nele, ele poderia alugar o filme um dia.

"Mas é um clássico!", a menina fala. "Um clássico da literatura!"

Não sei porque essa história ficou gravada na minha mente. Acho que a visão do garoto levando a menina pelo pulso, dizendo que estava com fome, que tinha que achar a mãe que estava na Riachuelo, que estava tarde, e ele jogando o livro para cima do sofá onde eu estava sentada foi bem mais marcante que a tentativa de leitura da garotinha.

Da próxima vez, que ela escolha um gibi da Mônica.

- Lara tinha que postar algo, e esta era a coisa mais recente que ela tinha escrito, Lara manda desculpas para quem lê -

6.4.09

músicas, filmes, livros.

Músicas, filmes, livros: meu refúgio. Acompanhar uma voz ritmada me faz esquecer de onde eu estou. Uma dose de ficção me faz sentir de melhor estado de espírito. A fantasia nos ajuda a encarar problemas; a emoção faz de nós mais fortes; canalizar nossa mente e concentração nos mantém sãos. A cultura que nos destaca entre os seres vivos, a cultura é poder, a cultura é criação.

Quando estou absorvendo um desses elementos, bloqueio da mente meus problemas, bloqueio da mente meu cotidiano, bloqueio da mente o meu mundo. Oh, we all want to change the world.