20.9.09

poeta.

Às vezes dá vontade de ser poeta.
Mas fingir tão completamente
é um trabalho árduo.
Fingir que é dor, fingir ser amor.
Fingir ser abstrato.
Chegar na sensação de ser nada,
e que acaba sendo tudo.
Chegar onde emoções imperam
é um trabalho árduo.
Até para Fernando Pessoa.

7.9.09

casaco.

Ela sentia frio.

Dentro, estava insuportável. Suas mãos geladas esfregavam-se uma na outra, na vaga esperança de que o atrito lhe desse calor. As pernas tremiam. Sua mandíbula, inquieta, debatia-se contra seu maxilar. A pele tornava-se arroxeada em alguns pontos. Ela se abraçava.

Ele sentia calor.

Protegido por seu casaco, seus braços estavam aquecidos e confortáveis. As meias forravam seus dedos dos pés. O frio, para ele, era agradável. Não se sentia mal debaixo das grossas vestes, até que notou o frio que ela sentia.

Por que ele não a abraçava? Por que ele não transmitia o calor, que emanava de sua pele, para ela?

- Pegue meu casaco.

Ela aceitou.

Mas continuava preferindo um abraço.

1.9.09

reflexo.

Encarando-se no espelho.
Olhando bem nos meus olhos,
almejando por lê-los.
São eles dóceis ou frios?