tag:blogger.com,1999:blog-61315512013655343462024-03-12T20:40:38.803-03:00desaniversário.Lara.http://www.blogger.com/profile/05387822412297591730noreply@blogger.comBlogger56125tag:blogger.com,1999:blog-6131551201365534346.post-24165258694194194232014-01-07T12:31:00.001-03:002014-01-23T18:25:27.730-03:00caixa.Ela foi colocada em uma caixinha.<br />
<br />
Era uma caixinha preta, e até confortável. Tinha furos, por onde se passavam os dedos das pessoas de fora. Tinha amigos de unhas muito bonitas, limpas e bem cortadas.<br />
<br />
O mundo dela era esse, escuridão com oito fachos de luz, que vinham dos furos do cubo que vivia.<br />
<br />
Imaginava como seria um aperto de mão. Ousava, pensando em como seria um abraço. Mas estava trancada em sua caixa, sozinha.<br />
<br />
Os de fora nunca imaginariam que ela queria viver na luz. A caixa era estática, sem movimentos de luta para sair. Não se interessavam em tentar tirar a tampa pesada que a trancafiava. Ela sentia que fazia por merecer, a culpa era dela, de fingir ser a garota da caixa, conformada com menos que uma mão.<br />
<br />
Eles não viam os arranhões dentro da caixa.<br />
<br />
Eles não viam as unhas dela, todas quebradas.<br />
<br />
-<br />
<i>ando meio monotemática por aqui. peço desculpas</i>.Lara.http://www.blogger.com/profile/05387822412297591730noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6131551201365534346.post-87210434393878355862013-10-16T21:24:00.000-03:002013-10-16T21:34:10.766-03:00pensamentos sobre o pensamento.Não existe algo mais fascinante que o pensamento.<br />
<br />
Como pode algo tão abstrato nascer de algo tão físico como um punhado de sinapses? Como pode sermos tanto, estando confinados à caixa craniana?<br />
<br />
O cérebro tem vida. De lá, nasce a personalidade, nossos sentidos, nossos devaneios. Tudo nasce de lá.<br />
<br />
Somos neurotransmissores, e é estranho pensar nisso.<br />
<br />
Querem acreditar que existe algo mais glorioso além do nada, do completo caos do universo. Não querem ser uma aleatoriedade. Querem ter significado. A religião nasce porque é difícil aceitar isso, e assim é com a cabeça, é difícil aceitar que tudo o que você pensa e sente é só bioquímica que acontece no seu cérebro.<br />
<br />
Nada faz sentido.<br />
<br />
Qual o sentido do pensamento? Por que?<br />
<br />
A realidade existe, sem algo que trabalhe nela? O mundo existe, se não há nada que o perceba? A realidade, na verdade, é subjetiva? Porque ela reside no nosso cérebro. É interpretação.<br />
<br />
Conexões de palavras, de ideias. Conversas que travamos com o próprio ser, consigo mesmo. Ondas só suas, batalhas que só sua massa cinzenta sabe claramente. Você pode tentar explicar, organizar as frases. Se entende a ideia central, mas não a essência pura. Porque só quem é dono do pensamento, que às vezes nem se organiza em palavras, mas em sensações, sabe de fato o que pensou.<br />
<br />
O pensamento intriga ao ponto de refletir sobre a existência humana.<br />
<br />
Essa trilha da cabeça é um mistério.<br />
<br />
Susanna Kaysen fala de a cabeça ser dividida em intérpretes, um que pensa, e o outro que pensa o pensar.<br />
<br />
Talvez o que pense o pensar seja enfim nossa alma.<br />
<br />
É esquisito perceber que o que pensa o pensar também é um pensamento. Também é bioquímica. Também está preso no nosso cérebro. Tudo, tudo é intracorpóreo. E por tudo ser intracorpóreo, a existência fascina, e o universo fascina, e como podemos existir no meio dessa entropia fascina.<br />
<br />
Somos o caos estalando em sinapses.<br />
<br />
Somos teias incompreensíveis.<br />
<br />
Somos sem sentido algum.<br />
<br />
Só o fascínio nos mantém, com uma pergunta.<br />
<br />
Como pode?<br />
-<br />
<br />
<br />
<br />
<i>não costumo postar textos assim por aqui, fluxos de ideias. costumo postar contos. como faz muito tempo que não publico nada, abri essa espécie de exceção.</i>Lara.http://www.blogger.com/profile/05387822412297591730noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6131551201365534346.post-67411517670281757322013-09-08T23:43:00.002-03:002013-09-08T23:43:12.196-03:00uma observação:Posso passar um longo tempo sem postar.<br />
Nunca passo um longo tempo sem escrever.Lara.http://www.blogger.com/profile/05387822412297591730noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6131551201365534346.post-78542799149865959342013-04-21T20:51:00.000-03:002013-04-21T20:51:52.590-03:00pés descalços.A cortina aberta deixava um facho de luz entrar no quarto, iluminando a cama dela. Sentindo a luz tocar no rosto, ela acordou, permanecendo imóvel por alguns instantes antes de a força de vontade acordar também.<br />
<br />
Esticou-se, pôs os pés para fora da cama e pisou no chão.<br />
<br />
O azulejo era frio.<br />
<br />
Olhou para o cantinho do quarto, onde ficavam suas sapatilhas. Ela sorriu por nunca as ter usado.<br />
<br />
Gostava de andar descalça, porque assim se sentia livre, se sentia ela mesma. Gostava de conhecer o chão que pisava. O orgulho por estar sempre sem sapatos era parte dela também.<br />
<br />
Alguns não achavam muito sensato, da parte dela. Pessoas andavam calçadas, afinal de contas. No seu aniversário, sempre ganhava várias meias.<br />
<br />
Pensava, se estão se importando por eu estar descalça, é porque não são pessoas que devam estar comigo.<br />
<br />
Um dia tinha passado por grama, asfalto e calçada quebrada antes de chegar em uma festa, onde estava o garoto alto. Ela tinha interesse por ele, conseguia imaginar a si mesma arranhando suas costas, contra uma parede.<br />
<br />
Ele a achava bonita, mas ela andava descalça.<br />
<br />
Se se importam com meus pés, não são para mim, dizia para si. Não aceitam meus pés nus, não precisam conviver comigo, repetia.<br />
<br />
O orgulho dos seus pés a evitava de mancar.<br />
<br />
Andou pelo azulejo do quarto, do corredor e da cozinha, para tomar café sentindo o que restou do frio da noite através do piso.<br />
<br />
Dia pós dia, caminhava sentindo o ar entre seus dedos. Mas o orgulho não se sustentava como antes, não servia de base sólida como seus pés que começavam a dar passos incertos.<br />
<br />
Questionava se o certo era ter pés descalços. Questionava sua liberdade e seus passos. Questionava se estava seguindo o caminho que deveria seguir.<br />
<br />
Se são pessoas que importam, elas não se importarão com minha falta de sapatos, continuava o resquício de orgulho, tentando manter sua posição.<br />
<br />
Cambaleava.<br />
<br />
O facho de luz a acordou, naquele novo dia. As dúvidas faziam a força de vontade ter uma soneca maior que a de antes.<br />
<br />
O azulejo deu-lhe um beijo frio antes de ela encarar as sapatilhas no cantinho do quarto.<br />
<br />
Foi até lá e as calçou.<br />
<br />
Passou o dia caminhando sem sentir o ar entre os dedos dos pés. A liberdade reclamava, mas o orgulho dos pés descalços vacilava.<br />
<br />
Quando voltou para o quarto, no final do dia, estava cheia de calos. Bolhas no calcanhar.<br />
<br />
Suspirou enquanto colocava meias para poder dormir. Elas finalmente eram usadas.Lara.http://www.blogger.com/profile/05387822412297591730noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6131551201365534346.post-14172716600788862172013-01-30T23:50:00.000-03:002013-01-31T01:14:53.910-03:00lacrado.As pessoas costumavam contar sonhos e ele as escutava.<br />
<br />
Algum amigo o telefonava e narrava histórias por horas, outro digitava palavras noite adentro pelo computador. Aquela amiga, que o chamou para um café, contou cada sobressalto do seu sonho antes de tocar em sua coxa, mexendo no cabelo com as mãos, lançando-lhe então um olhar lascivo.<br />
<br />
Ele também tinha sonhos.<br />
<br />
Certa manhã, acordou sorrindo. Era o que fazia quando tinha um sonho tranquilo, refletia sobre enquanto encarava o teto do seu quarto. Era um bom sonho para compartilhar. Algo além do vazio de uma manhã qualquer.<br />
<br />
Contou para um amigo depois de uma cerveja. Contou da paz que sentiu, contou da calma dos gestos da garota do sonho, contou como sentiu a pele dela.<br />
<br />
Só depois percebeu o corte que tinha nos dedos, seu sangue pingava na mesa do bar. Não conseguiu limpar tudo com o guardanapo vagabundo.<br />
<br />
Seus sonhos sangravam quando revelados, ele aprendeu.<br />
<br />
Escritores passavam seus sonhos para o papel, palestrantes dividiam sonhos com um auditório. Sonhos enfeitavam novelas. Mas ele não podia dizê-los, era anêmico em potencial.<br />
<br />
Seu sono REM individualizado o isolava. Sempre que tentava contar para um amigo, o vermelho tingia suas roupas, o desestimulando a se abrir.<br />
<br />
Foi quando ele estava cansado de band-aids e com a mente quase hermeticamente fechada que ele a conheceu. Tímida e de pele delicada, ele queria conhecer seus sonhos. Tornaram-se amigos.<br />
<br />
Um dia ela despejou todo o conteúdo de um sonho para ele, toda a sua angústia noturna. Ele segurava sua mão, ouvindo o calor dela, e queria sabê-la por completo.<br />
<br />
Queria contar seus sonhos para ela, queria se expor, deprimido por seu silêncio de guardador de sonhos.<br />
<br />
Começou uma narrativa, nervoso.<br />
<br />
Ela imediatamente virou-se para ele, com os olhos bem abertos, sem acreditar que iria ouvi-lo e enfim parar de supor o que ele sonhava. Nem conseguia piscar.<br />
<br />
Ele prosseguiu com seu sonho antes lacrado. Discorreu sobre seus medos na história que preenchia suas noites.<br />
<br />
Um filete de sangue escorria de suas orelhas e ele não ligava se sua pele iria cicatrizar ou não.<br />
<br />
Depois, a garota deu-lhe um lenço.Lara.http://www.blogger.com/profile/05387822412297591730noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6131551201365534346.post-49661225194723898052012-12-29T22:12:00.000-03:002012-12-29T22:12:08.883-03:00seis horas.Caminhava sem saber no que pensava.<br />
<br />
Ela precisava chegar às seis horas e para isso precisou pegar um ônibus. Depois de se sentar, próxima à janela, parecia pensar sem notar, cabeça vazia sem realmente estar. Os pensamentos se guiavam por si, enquanto olhava o movimento da rua.<br />
<br />
O vidro da janela era embaçado, via o mundo feito astigmático.<br />
<br />
Agora, na rua, sentindo o peso da bolsa em seus ombros, via o contorno das formas e pensava se todos viam como ela.<br />
<br />
Sereias precisam ser míopes para ver bem debaixo d'água.<br />
<br />
Andava e não sabia mais o por que. Era como se não tivesse objetivos reais, caminhando pelo ato de caminhar, de seguir, sem refletir no que está além disso.<br />
<br />
Só precisava chegar às seis.<br />
<br />
Ela era máquina, inspirando e expirando, atravessando a rua e olhando a calçada quebrada.<br />
<br />
O céu muda de cor de quanto em quanto tempo?<br />
<br />
Na sua determinação desfocada, via um homem suado de academia vindo na sua direção, e ele tinha suas ideias, e ele tinha sua própria personalidade, e ele tinha sua história, indo para um lugar que não interessava aos passos da garota. O homem, ao vê-la, parou e pôs-se de lado para ela passar.<br />
<br />
Tomou um susto enorme porque lembrou que não era invisível.<br />
<br />
Por o pensamento voar tanto, ela pensou que não existia ali.<br />
<br />
Será que a viam na rua e pensavam nas histórias que ela carregava, assim como ela fazia com os passantes? Às vezes falava sozinha ao caminhar, será que notavam?<br />
<br />
Quando falava sozinha, inventava histórias para si, situações. Carregava sua história e suas histórias.<br />
<br />
Parou para pensar na sua falta de pensar. Ao pensar na falta de pensar pensou que se pensa o tempo todo. Seu coração iria bater e sua mente iria pensar sempre.<br />
<br />
Na verdade, iria parar algum dia, mas então não importaria mais. Ela não existiria. Não teria consciência para notar que não pensava.<br />
<br />
Só faltavam poucos quarteirões.<br />
<br />
Uma dor atravessava suas costelas, uma dor aguda. Continuou andando no mesmo ritmo, percebendo as pontadas, porque caminhar mais devagar não iria aliviá-las.<br />
<br />
E precisava chegar às seis.<br />
<br />
Debaixo de uma árvore, parou para atravessar a rua. Quando lançava um passo para asfalto, uma folha caiu sobre seu ombro. Assustou-se.<br />
<br />
Olhou para a rua e viu os olhos de faróis iluminando seu rosto. Notou como o ônibus corria.<br />
<br />
Enfim parou de pensar.<br />
<br />
-<br />
coloquei a tag "conto" nesse texto, mas não sei bem se isso é um conto. deve ser.Lara.http://www.blogger.com/profile/05387822412297591730noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6131551201365534346.post-2617037931098636302012-08-24T23:57:00.000-03:002012-08-24T23:58:09.390-03:00inversão.Depois da sua aula de esgrima, a garota se sentia cansada, mas estimulada. Sabia dominar o florete muito bem, quase uma extensão do seu braço. Também possuía algum destaque no boxe e em artes marciais, como as demais mocinhas da sua idade.<br />
<br />
Estudava em uma escola de internato tradicional, só para garotas. Tinha aulas comuns como português e matemática, mas o diferencial das formandas de lá estava na ampla quantidade de lutas que elas aprendiam, nas quais nossa heroína era invejada. Dentre os outros cursos adicionais, estavam o preparatório para o ingresso no mundo financeiro das bolsas de valores e também aulas de funcionamento geral de automóveis.<br />
<br />
Ela se dirigia ao seu quarto automaticamente. Quando as pernas se guiam de forma autônoma, a cabeça tem mais conforto para vaguear além dos corredores e dos pátios do colégio.<br />
<br />
- Oi, - cumprimentou ao entrar no quarto. Sua amiga, Juliana, lia tuites, deitada. - desisti da greco-romana hoje. Posso agora te ajudar em química, se quiser.<br />
<br />
Juliana disse que não queria pensar em química agora. Amanhã começavam as férias, afinal de contas. Tinha de focar em garotos, isso sim. Por que garotos na mente com tanta frequência?<br />
<br />
Talvez fosse o excesso de garotas no dia a dia.<br />
<br />
Dormiu em uma noite condensada e sem sonhos. Seus pais a buscariam pela manhã, sem sentimentalismos nem reencontros doces. Isso era coisa para meninos e seus romances baratos.<br />
<br />
O nariz colado no vidro da janela do carro e os olhos bem abertos, sem ver, com o foco na mente sempre aérea. Como adorava poder ser independente, ser do sexo que usava saias. Ter sua própria vida, não ser dependente do casamento, poder ser solteirona, se quisesse.<br />
<br />
Mas por que, no íntimo, tinha essa fantasia de ser salva? Salva por um homem...! Parte do tempo, ao caminhar na rua, se imaginava na situação de ser atacada e assim meter a porrada no agressor. Pensar em quebrar ossos acalentava o instinto da violência humana. Estar em uma briga.<br />
<br />
Mesmo assim, na outra parte do tempo, pensava em uma caminhada sinistra e um agressor hediondo, sendo ela salva por um homem de ombros largos e aspecto viril. Não entendia o deleite que experimentava nessa cena imaginária. Ela era uma conservadora, e as ideias de machismo pareciam de outra realidade, de uma realidade que não era sua.<br />
<br />
Mas os ombros!<br />
<br />
O devaneio teve uma pausa para uma conversa com a mãe, de forma breve. Ela dirigia com calma. Falava de cavalos.<br />
<br />
A mente da garota logo galopou de novo, em um trote inevitável. Só voltou a prestar atenção quando o pai mencionou um possível casamento com um moço de bom dote.<br />
<br />
- Ele está preso em uma torre, pobre alma.<br />
<br />
O espírito aventureiro da garota relinchou de felicidade.<br />
<br />
Perguntou por fossos e dragões. O pai disse que não havia muita informação a ser dada, além do básico. Ele tinha a mãe do moço nos contatos do celular, caso a filha tivesse real interesse.<br />
<br />
Nossa heroína se interessou sim pela torre. Gostava de adrenalina. Era boa em torneios. Possuía sagacidade. Ela sabia disso e se fingia de modesta, um dos truques do carisma.<br />
<br />
Ficou decidido que salvaria o moço na semana seguinte.<br />
<br />
Flutuava na expectativa. Facilidade de perder-se em conversas.<br />
<br />
No dia do resgate, atravessou o campo, obstáculos que divertiram. Subia a parte final da torre, com a ideia de vitória.<br />
<br />
Chegou ao topo.<br />
<br />
Batidas leves na porta semicerrada, que abriu. O rapaz estava ali, de pé, olhando para ela. A garota se sentiu estúpida por sentir um nó no estômago. A consciência da própria estupidez, legítima, veio com a vontade de sorrir só por ver aquele moço, com contrações involuntárias do rosto. Se forçava a não sorrir tão abertamente.<br />
<br />
- Vamos?<br />
<br />
A decisão foi unânime. Travessão sem dono exato.<br />
<br />
Ela não tinha percebido que o dragão que enfrentara, agora derrotado, tinha aquecido e queimado parte da estrutura do castelo. Não tinha percebido uma viga que estava caindo.<br />
<br />
Só percebeu o estrondo pesado quando estava ao chão, depois de o rapaz ter a puxado para si e pulado para longe a tempo.<br />
<br />
O toque era em todo o corpo. Estava envolvida por completo por ele. Cruzaram os olhares e ele sussurrou, "está tudo bem?". Pelos da nuca se arrepiaram. Tinha sido salva.<br />
<br />
Depois de casados, eles dividiam a louça a lavar depois do jantar.<br />
<br />
-<br />
<i>muito provavelmente um dos mais clichês que já fiz. recentemente, ao menos.</i>Lara.http://www.blogger.com/profile/05387822412297591730noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6131551201365534346.post-56147950136905856522012-07-19T21:54:00.000-03:002012-07-19T21:54:27.888-03:00três quarteirões.Ela voltava do colégio de ônibus. Não se importava, na verdade. A garota até gostava disso, de analisar as pessoas do ônibus em silêncio, imaginando como era estranho pensar que cada um ali tem sua própria vida, seus próprios sonhos e pensamentos.<br />
<br />
Tinha também um jogo, quando o ônibus estava mais vazio. Se imaginava na escolha, uma escolha sem chance de não ser feita, a de quais caras de lá ela poderia ter sexo no caso de uma catástrofe mundial em que os sobreviventes seriam as pessoas daquele exato ônibus.<br />
<br />
Descia na sua parada sozinha. Sempre dizia um obrigada ao motorista.<br />
<br />
Na sua parada, Vítor a esperava. E ele caminhava os três quarteirões dali a casa dela, dava um adeus afetuoso e a via no dia seguinte. Conversavam sobre a vida, sobre o calor, sobre o céu.<br />
<br />
Voltando para casa naquele dia, conversando com Vítor, parou de repente. Na rua havia um rato morto, esmagado, aderido ao asfalto.<br />
<br />
Ela via como suas patas eram pequenas. Seus dentes à mostra. Os buracos onde antes haviam olhos. E achava aquilo fascinante.<br />
<br />
No prédio ao lado, Lucas olhava pela janela. Viu a garota ali, parada, olhando para um rato morto na rua. Ela encarava o bicho de modo a analisar a vida ali extinta. Ele não soube porquê, mas sorriu.<br />
<br />
<i>A vida é como mágica. Vejo meus dedos movendo e é tão bonito. Há tanta beleza. Todas essas coisas ao nosso redor e as pessoas nem se incomodam de notar. É louco como tudo funciona. Máquinas, árvores, ratos. E pessoas. Cérebro, sangue, pensamentos, tudo isso aprisionado em um corpo. Como podemos sequer existir? A física é mágica. O universo, o cosmo, é mágico. Existência na bagunça do universo. O bóson de Higgs. Coisas. E fico hipnotizada, às vezes. Meu irmão dormindo e ele está sonhando, ele é outra pessoa, exatamente na frente dos meus olhos. Como podem as pessoas existirem? Essa energia fluindo pelo universo. E a morte. Às vezes penso sobre a morte. E é estranho. A vida indo embora. O corpo comido por vermes, ou queimado, ou esmagado no asfalto, vazio. O fim. Me pego imaginando um mundo em que não existo. É uma puta loucura a ideia de que um dia estarei morta. Ideia bem, bem abstrata. Mas vai acontecer. O fim. E o mundo vai continuar girando sem mim, como se nada tivesse acontecido. E isso também é bonito, ao seu modo. A mágica não irá acabar. A energia que está pouco se fodendo para qualquer coisa, e somos só uma coisa ambulante que aconteceu. É bonito por sua existência, sua existência sem sentido. E só podemos ser felizes por sermos pessoas. Por ter coração e unhas. Pó cósmico, é isso que somos. Nada além de pó cósmico combinado. E isso é tão, tão bonito. Como pode a vida existir? </i><br />
<i><br /></i><br />
Ela desce do ônibus e cumprimenta Vítor. Outro dia. Conversam sobre sustentabilidade. Vítor diz que não devemos nos importar se o planeta vai acabar, porque ele não vai. A Terra vai saber se adaptar, como se adaptou antes. O problema, ele diz, é para as pessoas. Elas vão morrer. Ninguém vai fazer nada e o planeta saberá se livrar das pessoas.<br />
<br />
A garota fica chateada, mas concorda.<br />
<br />
Ela diz fazer xixi no banho e Vítor ri.<br />
<br />
Na janela daquele prédio verde, Lucas sempre está olhando para a calçada, nesse horário. Adora observar a garota. Ela hoje está de rabo de cavalo e ele fita sua nuca.<br />
<br />
Não pode ver dali, mas gosta de pensar que na sua nuca existem cabelos curtinhos e dourados, como uma penugem. Ela poderia ser uma ave, por ficar assim, andando leve e conversando sozinha, como todos os dias da semana.<br />
<br />
Esse hábito de Lucas não é entendido por sua mãe, que fica irritada por vê-lo demorar ao sentar-se para almoçar.<br />
<br />
Assim se passaram algumas semanas. Ela indo para casa, e Lucas a observando na sua solidão, ela conversando com o ar e se divertindo com isso.<br />
<br />
Naquela terça-feira, estava chovendo. A garota desceu do ônibus e riu ao ver Vítor, molhado, a esperando como de hábito. Ela pulava as poças que eventualmente apareciam na sua frente.<br />
<br />
- Sempre te achei tão espontânea. Livre. Eu gosto disso - Vítor disse a ela, e, na sua felicidade contida, corou.<br />
<br />
Lucas pensava o mesmo, da janela.<br />
<br />
Via a garota molhada, com o uniforme colado ao corpo, os cabelos colados à pele. Lembrava de seu sutiã revelado pela água ao tomar banho. Sua mãe gritava por sua demora no banheiro, um banho mais longo que o natural, e o chuveiro abafava o som de seus baixos gemidos.<br />
<br />
<i>Hoje me chamaram de espontânea. Fico muito feliz de ouvir isso. Espírito livre, bom humor, inteligência. Espero ser assim e tento ser assim. O que decidimos ser é algo importante. Escolhas fazem de nós o que somos. Estão longe de definir alguém, algo que acredito ser impossível, pelo menos por completo. Talvez muitos achem que sou maluca. Na verdade, sei que muitos acham. E eu gosto disso. Somos todos loucos, afinal de contas, mas ao menos não tenho medo de ser maluca. Gosto de pessoas loucas, para mim isso é uma qualidade, quase obrigatória. E a espontaneidade é ligada a ser maluca.</i><br />
<i><br /></i><br />
No dia seguinte, chovia de forma fraca, os pingos acariciando peles e as folhas das árvores. Lucas, pela janela, esperava a garota. Ela estava dez minutos atrasada.<br />
<br />
Não era algo para se preocupar, ele sabia. Mas não parava de pensar que poderia ter acontecido algo. Imaginou a garota morta, esmagada no asfalto como o rato que os unira.<br />
<br />
Deve ter ficado gripada da chuva que pegou ontem, repetia para si.<br />
<br />
Até que não aguentou. Ignorou a mãe lhe chamando e desceu para a calçada do seu prédio, para esperá-la, para vê-la.<br />
<br />
E a viu, há três quarteirões, descendo de um ônibus.<br />
<br />
Estava chovendo, mas via que ela estava chorando. Seu peito deu um nó.<br />
<br />
Ela se aproximava e ele não conseguia sair do lugar, da chuva. Não conseguia acreditar estar no mesmo nível dela, por estar geralmente a dois andares dela. Um sorriso tentava se manifestar, e ele tentava domar a si mesmo.<br />
<br />
Então a garota o viu. Encarou Lucas como se visse sua alma que agora estava molhada, não tanto quanto a dela.<br />
<br />
Ela olhou para o lado e pareceu brevemente surpresa, como se um amigo imaginário pudesse ter desaparecido misteriosamente. Lucas se divertiu com essa ideia por um segundo ou dois.<br />
<br />
Depois, foi ao seu encontro, com o coração subindo pela garganta.<br />
<br />
- Está tudo bem?<br />
- Não acredito que estou chorando na frente de um desconhecido. Não faço isso geralmente, acredite em mim.<br />
<br />
A sua voz, apesar de levemente anasalada pelo choro discreto, deu-lhe arrepios. Ele pediu para ela esperar um pouco e foi até a portaria do seu prédio, pediu um papel toalha, e voltou a ela.<br />
<br />
A garota só riu quando ele lhe entregou um papel toalha completamente encharcado, e gostou de ver a confusão simpática do rosto do garoto.<br />
<br />
<i>Vítor nunca mais apareceu. Mas não faz mal. Sempre vejo o garoto do prédio verde na janela do segundo andar, e sorrio e aceno para ele quando passo. Se ele estivesse no ônibus, e eu jogasse o meu passatempo de escolher um cara de lá, eu o escolheria sem sombra de dúvida, alegre, até.</i>Lara.http://www.blogger.com/profile/05387822412297591730noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6131551201365534346.post-31589979281759827102012-07-01T22:30:00.000-03:002012-07-01T22:34:50.871-03:00multiverso.- Quem é você? E onde eu estou?<br />
- Sonhando. Sente-se.<br />
- Não sabemos quando estamos sonhando.<br />
- Existe algo chamado sonho lúcido, a consciência de se estar adormecido. Os sonhos são entidades vivas e independentes. Não vá, espere um minuto.<br />
- A porta está trancada? Pode abrir agora, seu filho da puta, ou ligo para a polícia. Onde está meu celular?<br />
- Não sei, o sonho é seu. Acalme-se, não há sentido em quebrar as coisas. Não são minhas, de qualquer modo. Esse vaso não me afeta.<br />
- Prove que estou sonhando.<br />
- Ah, você sabe que está, no fundo.<br />
- Que barulho foi esse? Acho que ouvi alguma coisa, nesse quarto, o que foi isso?<br />
- Talvez seja o colapso de um novo universo nascendo.<br />
- Que porra é essa que você está falando?<br />
- O multiverso. Realidades diferentes da que vemos, há um universo na cabeça de cada um, dançando entre os neurônios. O mistério envolto na mente humana? Temos uma capacidade única de criar universos. Um universo com nossas próprias leis. E temos janelas para espiarmos: os sonhos. Quando morremos, eles conquistam liberdade e eclodem em outro lugar. Talvez tenha sido isso.<br />
- Você é louco.<br />
- Fui criado por você. Você é louco. E, por ser louco, me chama de louco. Você está se projetando.<br />
- Você está sugerindo outros universos no cérebro de alguém. E me trancou aqui para ouvir suas teorias. Acho que você precisa bem mais de um psiquiatra.<br />
- Deve ser duro, para você, descobrir isso. Saber ser produto da mente de alguém, de outra realidade, que morreu e, assim, deixou um universo independente, também deve ser perturbador. Mas é a verdade, sua mente é autônoma. Existe aí um universo adormecido, acordado enquanto você dorme. Dando traços de sua existência ao fantasiarmos de olhos abertos e nas histórias que criamos, como um Harry Potter voando por aí, um dia. A religião ainda não capturou que o nosso maior mistério somos nós mesmos.<br />
- Minhas fantasias são realidade, você disse?<br />
- Naquele dia em você bateu para a Scarlett Johansson ao tomar banho, bem, é algo com contornos de um universo só seu. Na sua mente. Particularmente ligado ao seu id.<br />
- Legal.<br />
- Não notamos a beleza dentro de nós. A vida, e a vida que explode em um novo universo ao morrermos, é surreal. O desconhecido é fascinante. Cada sonho, um mundo diferente, tomando vida própria. Cada pesadelo, a agonia do peso da nossa inventividade, a fábrica de universos dentro da nossa massa cinzenta - que na verdade é rosada. Uma ironia, de fato.<br />
- O que está acontecendo com meus universos cerebrais, agora?<br />
- Quando disse estarem eles adormecidos, significa que estão em outro espaço-tempo, mas atados a você. As personagens de lá seguem seus rumos. E, assim como sua ex vive em outra realidade, não só nas que você criou, você também tem um reflexo em outros. Tendo uma vida diferente. Somos multifacetados, e somos muitos no multiverso.<br />
- As coisas estão coloridas e girando. Cara, você parece estranho. Eu me sinto estranho. Dentro de um caleidoscópio, com Lucy esperando por mim no céu.<br />
- Outro universo, outras regras. A física é outra. Só livre quando você morrer.<br />
- E quando vai ser isso?<br />
<br />
<i>Casos de suicídio em série têm um fim</i><br />
Nessa sexta-feira, um caso peculiar foi resolvido. Um homem, por volta dos 30 anos, sem identidade reconhecida, levava pessoas sem padrão determinado a lugares diversos, como quartos de hotel à beira de estrada, após um coquetel de inúmeras drogas - como, por exemplo, LSD. O homem não matava as vítimas: ele, de alguma forma, induzia-as ao suicídio, talvez facilitado pelos alucinógenos tomados pelos escolhidos por ele.<br />
Sua 42ª e última vítima, de 24 anos, morador do bairro Meireles, aqui em anônimo por vontade da família, foi encontrada enforcada por um cinto em um hotel. Havia escrito na parede, com seu sangue e sua caligrafia, a frase "que eclodam meus universos".<br />
O criminoso, ao ser pego pela polícia, ateou fogo a si mesmo, queimando consigo a viatura que o levava e tirando a própria vida. Não houve feridos.Lara.http://www.blogger.com/profile/05387822412297591730noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6131551201365534346.post-44950052762471537232012-04-26T22:02:00.000-03:002012-06-26T23:00:34.869-03:00aquiles.Ela tinha os calcanhares azuis.<br />
<br />
Não tinha exatamente orgulho dos seus calcanhares, mas não escondia de si o azulado encardido, tinha consciência de ser assim e estava confortável com isso.<br />
<br />
Uma amiga sua tinha lóbulos vermelhos, flamejantes. Escondia-os com o cabelo, em um penteado que deixava brechas para suas orelhas em chamas. Enlouquecia. Aflita, pensou em arrancar a orelha, ser Van Gogh. Mas não conseguia, e se escondia.<br />
<br />
A de calcanhares azulados aceitava seus pés de nuvem.<br />
<br />
Uma vez usou sandálias para um encontro com seus amigos, que olharam escandalizados. Enconda isso, disseram. Como você pode ter uma mancha colorida na pele?, uma de mindinho laranja questionou. Cegos das suas cores. Daltônicos para a humanidade.<br />
<br />
E se viam algo estranho, um verde musgo nas costas das mãos, um lilás nas coxas, tratavam de esquecer. Passavam maquiagem, e resolvido. Até a hora do banho, ao menos.<br />
<br />
Cabeça aberta e calcanhares à mostra, causava rebelião mental nos outros maquiados. E dessa forma incomodava, porque lembrava o arco-íris dentro de cada um. Ninguém escapa daquela aquarela que pinta as pessoas.<br />
<br />
Não tinha medo das safiras aos seus pés. Notou que elas aos poucos desapareciam, restando só uma cicatriz do que tinham sido.<br />
<br />
Algum dia perceberia o novo anil às suas costas. E estaria pronta para usar frente-única, não negar a cor que fazia deles humanos, a cor repudiada e cheia de camadas de pó compacto.Lara.http://www.blogger.com/profile/05387822412297591730noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6131551201365534346.post-46428331982937122152012-04-06T20:27:00.001-03:002012-04-06T20:27:46.920-03:00devaneios.Será que um dia fomos todos um só? O universo inteiro em um ponto que explodiu?<br />
<br />
Nas minhas veias corre o sangue de uma estrela?<br />
<br />
E a vastidão do espaço.<br />
<br />
Acho assustador de alguma forma, porque assim notamos como somos insignificantes. Somos tão pequenos, tão pequenos. Sentir isso nos diminui ainda mais. Mas fascina ao mesmo tempo.<br />
<br />
Que nem a vida.<br />
<br />
Será a vida produto do acaso?<br />
<br />
Não acredito em Deus. Não acredito em um ser bondoso maior que tudo que conhecemos, manipulando tudo. Mas acho que acredito em uma força, uma energia, fazendo as coisas acontecerem.<br />
<br />
Destino?<br />
<br />
Não sei.<br />
<br />
E, apesar de frustrante, essa é a beleza. Nunca vamos saber. Viajar anos-luz, salvar o mundo, ir ao infinito. Mas sempre existirão perguntas sem respostas. Sempre. O mistério nos mantém, dá a mente teorias infinitas. Eternas.<br />
<br />
Aquela hora que a mente divaga é a hora em que tudo é verdade. Quando você sabe as mais loucas teorias, quando você engatilha mais respostas para mais perguntas e mais perguntas para ter ou não respostas.<br />
<br />
Mas somos tão pequenos.<br />
<br />
Somos tão grandes para as formigas. O que é o mistério para elas?<br />
<br />
E um universo dentro de outro? Achar um planeta dentro do núcleo de um átomo? Descobrir estarmos nós em um átomo de um outro universo?<br />
<br />
Tudo acaba?<br />
<br />
Vamos todos ser comidos pela terra. Virar um dia outra coisa. Ser comido por uma zebra. Ser reciclado.<br />
<br />
A única coisa para perdurar são as impressões. São suficientes para um retrato de nós mesmos? Vamos amarelar e ser esquecidos.<br />
<br />
Mas, por enquanto, vivo.<br />
<br />
---<br />
esse texto não foi escrito originalmente para ser publicado. é meio que pessoal. mas estava na hora de postar alguma coisa por aqui.Lara.http://www.blogger.com/profile/05387822412297591730noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-6131551201365534346.post-46348042776936443772011-12-29T00:18:00.002-03:002011-12-29T13:57:50.437-03:00placa verde.Todos iam àquela cidade. Quem sabe pudesse ser uma cidade autoritária, que impedisse a saída de qualquer um chegasse, porque quando chegavam lá, nunca mais voltavam. Ou poderia ser uma boa cidade, de onde ninguém quisesse sair.<br />
<br />
Não se sabia muito dela. Nem sua localização era definida, o que dizer do que acontece lá dentro, onde não existiam telefones, internet, e o celular sempre fora de área. As pessoas eram incomunicáveis. Por isso tantas teorias do universo dentro dessa cidade.<br />
<br />
O único fato é que todos, todos seguiam em direção a ela. Grandes avenidas, ruelas, carros passavam por caminhos até chegar lá.<br />
<br />
Todos na estrada.<br />
<br />
Aquele ali tinha medo de ir para lá. E se ele não gostasse do ar, se não fosse devidamente arborizado? Obviamente teria de se fixar, mas ele, como a imensa maioria, amava a estrada.<br />
<br />
Ouviu boatos de pessoas que, quando menos esperavam, se deparavam com uma placa verde sinalizando a chegada.<br />
<br />
Por isso, ele às vezes era neurótico. Quando estava há muito em linha reta, fazia uma curva louca e seguia em outra via, para garantir sua segurança.<br />
<br />
Outro dia parou para uma tapioca à beira da estrada e conheceu uma loira linda. Estava sentado assoprando o café quando ela entrou com suas coxas torneadas e capacete na mão. Ela foi até sua mesa e se sentou ali. Sentiu que ia se dar bem, até ela sussurrar na sua orelha, tem espaço na minha garupa, e ele, neurótico, recusar, pensando que ela sabia exatamente onde a cidade ficava e fosse levá-lo junto. Ficou tão nervoso que esqueceu de sugerir, hm, você poderia, antes de seguir com a viagem, ficar no meu carro um tempinho.<br />
<br />
Ele era extremamente individualista, não gostava de dirigir com alguém ao seu lado, dando pitacos.<br />
<br />
A estrada era só dele, e ele era só da estrada.<br />
<br />
Sentiu fome e parou para comer algo naquele restaurante que, como todos os outros, era de beira de estrada. Estava apinhado de gente, e não teve outra alternativa além de se sentar na mesa de um homem de chapéu de abas largas.<br />
<br />
Individualista, porém minimamente civilizado, cumprimentou aquele à sua frente. E a conversa fluiu, histórias transbordando e ideias flutuando.<br />
<br />
- Você é um cara esperto, - ele disse, de voz transparente. - mas pare de pensar tanto n'A Chegada. Isso tudo não é sobre chegar, é sobre a jornada até lá.<br />
<br />
E absorveu as palavras como a esponja que ele era.<br />
<br />
Ao terminarem de comer, despediram-se, e cada um no seu carro. E saíram, cada um no seu caminho. Porque aquele caminho se percorria maior parte sozinho.<br />
<br />
Notou a estrada se tornando mais estreita. Achou estranho. Não conseguia visualizar o próximo desvio, e o sangue quente correu mais rápido nas veias, coração em parafuso, em pânico.<br />
<br />
E viu.<br />
<br />
Lá longe, teve um vislumbre da placa verde. Não podia dar ré, porque carro nenhum tinha ré. O que passava, só podia se contemplar no retrovisor.<br />
<br />
As letras brancas no verde cresciam no fermento do acelerador. Tornaram-se legíveis: bem vindo.<br />
<br />
E ele relaxou. Uma paz acabando sua ânsia, porque se sentiu bem vindo.<br />
<br />
Todos os caminhos têm o mesmo destino.Lara.http://www.blogger.com/profile/05387822412297591730noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6131551201365534346.post-61961450449645808052011-11-24T20:55:00.001-03:002013-01-29T19:55:12.226-03:00janela.Espírito amigável, timidez não era um de seus aspectos. Seu nome, ao dançar na boca de alguém, tinha timbre de palavra alegre. Seus olhos azuis eram marcantes para aqueles que a conheciam.<br />
<br />
Ela não entendia, porém, porque as pessoas não viam serem seus olhos obviamente castanhos. Fitava-se no espelho, incrédula sempre ao constatar que seus olhos não eram azuis, algo que as pessoas tinham como certo. Considerou a possibilidade de ser daltônica. Fora também ao oculista. "Nada de errado com seus olhinhos azuis, menina".<br />
<br />
Apesar de se divertir na maior parte do tempo, não se sentia confortável em alguns momentos de não-euforia. Às vezes parecia estar assistindo a uma cena como espectadora, até alguém lhe fisgar, e ela voltar ao lugar onde seu corpo estava. Rodeada de pessoas, se sentindo só.<br />
<br />
Sentia ser a garota dos olhos azuis, mas não podia negar a garota dos olhos castanhos: invisível, mas existente. A garota dos olhos azuis dentro dela sentia-se saciada, mas era egoísta. A garota dos olhos castanhos tinha fome.<br />
<br />
Bipe de celular, uma mensagem. "Estou aqui te esperando". A sua carona. Achou o carro da Brenda e foi-se ao encontro de seus amigos.<br />
<br />
E ela ria. E esquecia dos olhos castanhos que tinha e que, para os outros, não existiam. O tempo passando e começaram alguns a irem embora. Mas ela continuava lá, e ela ria.<br />
<br />
- Aonde está a Brenda?<br />
- Está se agarrando com o Lucas. - foi o que respondeu um dos seus amigos. Ela estava a sós com ele no cômodo, agora. Brenda tinha o costume de ser uma das últimas a ir embora, por conseguinte, ela também.<br />
<br />
Conversas entre duas pessoas são poderosas. Ativam assuntos adormecidos e desinibem a alma, quando estamos entorpecidos e há conexão.<br />
<br />
Depois de longo tempo de conversação, o silêncio imperou. Somado ao contato visual intenso, olho no olho, dá sensação de nudez.<br />
<br />
Você tem lindos olhos castanhos, ele disse, palavras pairantes no ar. A visão é altruísta, dá lugar ao tato e ao paladar.<br />
<br />
E o contato passou do visual.Lara.http://www.blogger.com/profile/05387822412297591730noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6131551201365534346.post-36695776085411971092011-11-01T23:01:00.002-03:002013-01-29T19:54:56.968-03:00sombras.Aquela cidade era bem normal. O máximo que lá acontecia era uma chuva mais grossa que encharcava ossos.<br />
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Mas um dia o sol nasceu negro. Uma grande bola negra no céu.</div>
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Primeiro, houve o pânico. Como é que o sol estava daquele jeito? Será uma força desconhecida? E aquele sol começou a sugar a luz da cidade. E a sugar a luz do mundo. Quiçá da galáxia. Quando algo não é mais novidade, param de se importar. E daí que não há luz? E continuaram seus caminhos.</div>
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Não se viam mais pessoas. Se viam espectros.</div>
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E ver o rosto de alguém passou a ser um contato muito íntimo para qualquer um. No escuro, não se conhece ninguém. O outro é um desconhecido. O único confiável é você mesmo. O aceito mundialmente, o acordo, era de se manter isolado e não mostrar seu rosto.</div>
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Um menino ouvia histórias do seu avô, que mais pareciam fábulas, de um tempo em que todos viam os rostos um dos outros. Os mais corajosos podiam até perguntar qual o seu nome. E o menino ouvia deslumbrado, porque crianças gostam de contos de fada.</div>
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Ele cresceu, e crescia com um isqueiro no bolso. Ele era adaptado à escuridão, mas sonhava com a luz.</div>
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No trabalho ele tinha de cuidar de alguns papéis. Muitas pessoas-espectros passavam por lá e pediam informações. Noite pós noite, porque lá não existiam dias, ele trabalhava de bom grado.</div>
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Até o dia em que uma voz fez seu sangue gelar.</div>
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A expressão "o sangue gelar" é subestimada, porque nos faz pensar em medo, proporcionado por uma descarga de adrenalina. Mas adrenalina com pitada de feromônios não é medo puro, é medo alegre.</div>
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Sangue gelado e estômago virado.</div>
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A voz delicada de moça fez o rapaz fazer algo que a maioria preferia evitar: imaginar o rosto dela.</div>
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Queria saber se seu rosto parecia com sua voz, um veludo que chegava a ele em ondas. Muitos não gostavam nem de descobrir suas próprias feições, tinham medo de descobrir algo monstruoso em si, o que o rapaz não ligava. A monstruosidade é humana. Ele próprio acha seu nariz meio grande demais, mas ali ainda era ele. Se a moça tivesse um nariz grande, ele não se importaria. Se tivesse lábios muito finos, ele não se importaria. Ele tinha a ânsia de conhecê-la. Saber quem ela é.</div>
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Seus dedos roçaram no isqueiro no seu bolso. Acariciava o isqueiro como se esse fosse sua tentação.</div>
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- Me ouviu, senhor?</div>
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A voz pairava e ele sentia o gosto da voz. Queria ver a voz. Queria lamber sua voz. Mas ainda era muito pouco.</div>
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Tirou o isqueiro do bolso como o criminoso tira um canivete antes de uma atrocidade. Ergueu o objeto no escuro familiar.</div>
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Queria ver seu rosto.</div>
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- Com licença, senhorita.</div>
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E com um movimento tão simples quanto um canivete em uma garganta despreparada, ele acendeu o isqueiro e o fogo iluminou o balcão.</div>
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Vislumbrou seus olhos vivos em desespero. Seu baixo ventre se enrijeceu de emoção e entusiasmo.</div>
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E a garota fugiu, sem deixá-lo conhecer seu rosto.</div>
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Porque rostos não se mostram.</div>
Lara.http://www.blogger.com/profile/05387822412297591730noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6131551201365534346.post-58954898860258071762011-04-15T22:23:00.002-03:002011-12-29T13:58:20.452-03:00azul.<div class="MsoNormal">
Estava lá no fundo, via tudo azul.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Um círculo de luz na superfície. O Sol parecia diferente aqui embaixo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Então lembrei. Não respiro aqui.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Estava tão fundo... a luz vinha de longe. Como eu iria alcançá-la? Me resfolegava, batia as pernas, mexia os braços.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Está tudo bem?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Daí acordei.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Nick me salvou de um afogamento surrealista. Nós tínhamos alguma diversão juntos há algum tempo, nos conhecemos em uma situação embaraçosa, e tivemos um conhecimento relativamente profundo um do outro para um espaço de tempo de poucas horas.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Ele me falava da sua vida e eu falava do que queria fazer com a minha.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Vou ver se pego algo para comer na Paula. A gente se vê depois. Cuidado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
E ele saiu.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Me encolhi no banco de trás do carro, onde eu tinha dormido – e me afogado.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
As gotas d’água no vidro da janela pareciam me chamar, mas eu estava sem forças para mover até mesmo meus dedos. Quando o celular, no meu bolso de trás da calça, começou a vibrar, tive de tirar energias para me mover de alguma parte de mim que pensei que nem existisse.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Alô?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Corre, - ouvi a voz de Nick – foge daí agora. Tenho de desligar. Tchau.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Assim que as palavras fizeram sentido na minha cabeça, pulei para o banco do motorista e dei a partida no carro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
A estrada já era familiar para mim e para Nick. Talvez ela, só ela e a Paula, conhecessem nosso segredo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Quando estamos fugindo, não pensamos em nada. A única coisa em mente é, puts, corre, rápido, se esconde.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Nem sempre é fácil de lembrar algum esconderijo, ainda mais com fome.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Eu só corria com o carro, tendo de companhia só a estrada.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Um posto de gasolina, lá na frente, era o lugar em que eu sempre estacionava. Ao lado do posto havia um muro amarelo, que circundava o prédio da Paula.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
E o posto se aproximava. E eu reduzia a velocidade.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Parei o carro, saí dele. Dei um alô ao frentista que estava sempre por lá. Ao invés de só tirar o boné e cumprimentar de volta, ele disse que eu fosse discreta.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
O que era óbvio.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Saquei o telefone do bolso enquanto dava alguns passos em direção ao muro amarelo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Ei, estou em frente a sua casa. Você saiu?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Não. Vou dizer para o porteiro deixar você subir.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Um clique fez a porta de alumínio abrir.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Começava a chover. É engraçado notar que todo mundo anda mais rápido quando começa a chover, no fim das contas estaríamos molhados de um jeito ou de outro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Aquele lance de escadas também já era um velho conhecido meu. Toc, toc, toc, se ouvia meus tênis molhados batendo nos degraus. Eu sabia muito bem aonde estava indo, e mesmo que houvesse a perseguição, aquela sombra, um vulto invisível que eu só supunha a presença, era reconfortante estar ali, subindo.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Apartamento 301.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Toquei a campainha, e depois de poucos minutos ela apareceu, loira e mau humorada. “Entra”, ela disse.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- E aí, Paula. O Nick está por aqui?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- O meu Nick ou o seu Nick?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
O namorado da Paula se chamava Nick.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- O meu Nick. – eu tirava os tênis e as meias, e deixava ali encostada perto da porta.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Ah, ele estava aqui, mas deu uma saída. Ei, você tem um cigarro?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Você sabe que eu não fumo. Vai para o posto e compra cigarro, cara. Preguiçosa.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Sai dessa, você que veio mendigar por aqui.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Paula mexia suas pernas gordas em direção ao sofá. Vasculhou as almofadas, achou uma carteira de cigarros, e deu um resmungo quando viu que estava vazia.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Vou dizer para o vizinho de baixo que vou fazer barulho no quarto. – disse, indo até a cozinha, com intenção de ir ao interfone. – O filho da puta disse para eu parar de gritar e de ranger a cama, porque atrapalhava o sono dele. Vou mandar ele se ferrar, aposto que é um mal comido.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Fiquei sozinha na sala.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
A sala dela era bem simples. Tinha um sofá azul e uma mesinha, com algumas revistas e um cinzeiro sobre ela. Uma televisão, telefone, um armário que estava sempre vazio, onde cabia alguém dentro. Paula dizia que ia colocar uns livros lá dentro qualquer dia.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Ouvia ela brigando na cozinha. Não entendia muito bem, mas saquei um “vá se foder” no meio de uma frase.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Cheguei para perto do armário e bloqueei a sua portinha com meu corpo, ao me sentar em frente dele. A Paula estava vindo, trazendo um copo d’água na mão.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Cara ridículo. O que você está fazendo aí?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Nada! – fingi nervosismo. <o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- O que é que você está fazendo? Tem alguém aí dentro?<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Como...? Porra, Paula, nunca fiz nada além de uma chupada, eu te juro.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
- Puta que o pariu! Como é que você faz isso comigo, sua filha da puta? Depois de tudo que eu fiz por ti!<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Me levantei rindo e disse que estava só brincando. Ela fez uma expressão de indignada de forma bem teatral e jogou um copo d’água na minha cara.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Daí acordei.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Estava lá no fundo, via tudo azul.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
Um círculo de luz na superfície. Eu não respirava e não importava como eu me mexesse para nadar naquela água gelada, porque eu não saía do lugar.<o:p></o:p></div>
<div class="MsoNormal">
E Nick não podia me salvar, eu já estava acordada.<o:p></o:p></div>Lara.http://www.blogger.com/profile/05387822412297591730noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6131551201365534346.post-69847408330892189872010-09-25T23:43:00.002-03:002010-09-25T23:56:54.177-03:00decida.Ele não sabia o que fazer. Vai ou recua? Vale a pena?<br /><br />Cansado de debater consigo, perguntou, contou a um amigo. O que fazer?, qual sua opinião?, falou.<br /><br />O amigo só disse, respire, vá com calma. Cuidado com o que se faz. Você pode quebrar a cara.<br /><br />É, ele pensou. Você pode estar certo. Posso quebrar a cara. Mas voltou a refletir. Antes tentar e sofrer que sofrer por não ter tentado, não? Podemor lidar com uma cara quebrada, ela pode se consertar, certo? Antes quebrar a cara que remorso!<br /><br />Cansado de debater consigo, penguntou, contou a outro amigo. O que fazer?, qual sua opinião?, falou.<br /><br />O outro amigo só disse, vai fundo, ué.Lara.http://www.blogger.com/profile/05387822412297591730noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6131551201365534346.post-45245784106353378202009-12-14T19:45:00.002-03:002009-12-14T19:54:00.025-03:00aquele na rua<span style="font-family: verdana;">A rua suja, a alma suja<br />Confusão, paranoia<br />E girando, o mundo realmente gira<br />Túrgido, embaçado<br />Onde? Quando?<br /><br />A serotonina então se foi<br />E a mancha rubra suja<br />mancha ainda mais a rua suja<br /></span>Lara.http://www.blogger.com/profile/05387822412297591730noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-6131551201365534346.post-1169814263096650092009-11-17T21:42:00.001-03:002009-11-18T18:29:46.338-03:00revolta.<span style="font-family:verdana;">Estar revoltada é um porre. Você odeia tudo o que vê, e ainda distorce suas visões, para odiar mais. Acha que ninguém se importa com você, e decide fazer o mesmo para com os outros. Fica triste por ter a vida que tem, e ser o que é, e por estar deprimida. Quer se mudar para outra cidade, outro estado, outro país, e começar tudo de novo, sem ser a idiota que é. Não consegue ocupar a mente, e só pensa em defeitos. Tranca-se no quarto ou no banheiro e olha para o chão, pensando no que fez de errado. Você não presta, ninguém presta, a raça humana não presta, o planeta não presta. E, puts, por que esse ano não acaba logo ou quero ter minha própria vida. Daí você come qualquer coisa, ouve uma música, se deita e dorme. Quando acorda, já melhor, vê que tudo não é </span><span style="font-style: italic;font-family:verdana;" >tãaao</span><span style="font-family:verdana;"> ruim assim.<br /></span>Lara.http://www.blogger.com/profile/05387822412297591730noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6131551201365534346.post-24415129747101492252009-11-03T18:07:00.003-03:002009-11-03T18:09:06.034-03:00falta de inspiração.<span style="font-family:verdana;">Nenhuma palavra.</span><br /><span style="font-family:verdana;">Nenhuma metáfora.</span><br /><span style="font-family:verdana;">Nenhuma emoção.</span><br /><span style="font-family:verdana;">Só vagas linhas tentando expressar sentimento.</span><br /><span style="font-family:verdana;">Em vão.</span>Lara.http://www.blogger.com/profile/05387822412297591730noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6131551201365534346.post-23854359976723284432009-10-13T22:30:00.002-03:002012-01-18T13:19:33.114-03:00berlioz.<span style="font-family: verdana;">- A pedreira em que meu marido trabalha está quase ao ponto de fechar.</span><br />
<span style="font-family: verdana;">- A pedreira? Ela sempre foi um estabelecimento tão estável! Mesmo sendo maçante para seu marido. Passar o dia jogando água nas pedras. Afinal, as pessoas só compram pedras bem furadas. Mas por que vai fechar?</span><br />
<span style="font-family: verdana;">- Você sabe bem como o dono da pedreira, o seu Ernesto, é. Pode-se notar pela época em que ele passava horas a fio brigando com a esposa. Quando o pobre do Jairo, o entregador de café, meteu acidentalmente uma colher entre os casados, ele foi demitido sem dó nem piedade. Mas a situação foi mais grave. Houve um assassinato.</span><br />
<span style="font-family: verdana;">- Um assassinato! Meu Deus, não foi um atentado ao Jairo, por seu pequeno crime, foi?</span><br />
<span style="font-family: verdana;">- Não. Foi um atentado ao gato do seu Ernesto. Ele quase teve uma síncope ao ver o bichano esparramado e sangrento no chão.</span><br />
<span style="font-family: verdana;">- Como é que é?</span><br />
<span style="font-family: verdana;">- Delatando o crime: tudo começou no dia que o Breno, com preguiça de escrever, pôs uma bela imagem de um pelicano no cartaz publicitário da pedreira, ao invés da frase “as pedras daqui são as mais bem furadas do país” ou algo do gênero.</span><br />
<span style="font-family: verdana;">- Breno é o apressado?</span><br />
<span style="font-family: verdana;">- Sim, é ele. Ele se separou da mulher dele, a dona Perfeição, soube?</span><br />
<span style="font-family: verdana;">- Não, eu não soube. Mas ele é até rico, vendendo o tempo nas horas vagas. E o que faz a Perfeição agora?</span><br />
<span style="font-family: verdana;">- Ela foi a Roma.</span><br />
<span style="font-family: verdana;">- Por que Roma?</span><br />
<span style="font-family: verdana;">- Ela tinha uma boca enorme.</span><br />
<span style="font-family: verdana;">- Fugimos do assunto principal. Continue a falar do assassinato do gato do Ernesto.</span><br />
<span style="font-family: verdana;">- Enfim, no dito dia, as paredes ouviram um rumor sobre o Breno, de que ele estava vendendo pedras por o preço de um olho. A mãe dele estava precisando de um transplante de córnea, sabe como são as coisas. </span><br />
<span style="font-family: verdana;">- E daí?</span><br />
<span style="font-family: verdana;">- Pois um senhor queria comprar uma pedra, e este tentou dar-lhe um cavalo, e não um olho. O cavalo era banguela, mas Breno o aceitou, mesmo assim. Mais tarde o senhor trocou um olho pelo seu olho, o que não foi uma troca vantajosa, pois o simpático senhor ficou com um olho de cada cor.</span><br />
<span style="font-family: verdana;">- E o cavalo do Breno matou o gato?</span><br />
<span style="font-family: verdana;">- Não. O cavalo fazia parte de uma instituição em amor aos gatos.</span><br />
<span style="font-family: verdana;">- Então, o que tudo isso influi em sua narrativa sobre um assassinato?</span><br />
<span style="font-family: verdana;">- As pessoas da pedreira ficaram curiosas! Foi isso que aconteceu! A curiosidade é perigosa, fatal para os gatos. O pobre Berlioz morreu na hora.</span><br />
<span style="font-family: verdana;">- Que dó. O gato era feio como o diabo, porém.</span><br />
<span style="font-family: verdana;">- Mas Ernesto o amava.</span><br />
<span style="font-family: verdana;">- Isso tudo acontece porque Ernesto é torto: vai morrer assim. E por causa da mulher dele, também.</span><br />
<span style="font-family: verdana;">- O que tem a mulher dele?</span><br />
<span style="font-family: verdana;">- Ela vive falando, aos quatro ventos, nas suas brigas com o marido: “onde come um, comem dois!”.</span><br />
<br />
<br />
<span style="font-family: verdana;">-</span><br />
<span style="font-family: verdana;">esse texto faz alusão a provérbios, não sei se ficou tão claro. uma tentativa (mal-sucedida) de algo nonsense. nonsense é muito difícil para mim. q</span>Lara.http://www.blogger.com/profile/05387822412297591730noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-6131551201365534346.post-74037378236832798112009-10-05T19:32:00.003-03:002009-10-05T19:35:13.654-03:00perguntas.<span style="font-family: verdana;">Por que vivemos? Como alguém é racional e emocional ao mesmo tempo? Existe um destino a ser seguido? O que é a morte, além da ausência da vida? Como funciona o cérebro? Existe um Deus? Como se explica efeitos paranormais? Somos todos naturalmente bons ou maus? Por que pensamos, e como os pensamentos são formulados? A apocalipse acontecerá? Qual roupa usar domingo a noite?</span><br /><br /><span style="font-family: verdana;">Isso mostra como as perguntas envolvendo números ou elementos químicos são relativamente fáceis.</span><br /><br /><span style="font-family: verdana;">Pelo menos, elas têm resposta.</span>Lara.http://www.blogger.com/profile/05387822412297591730noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-6131551201365534346.post-78694833389211390392009-09-20T18:52:00.003-03:002009-09-20T19:09:19.304-03:00poeta.<span style="font-family: verdana;">Às vezes dá vontade de ser poeta.</span><br /><span style="font-family: verdana;">Mas fingir tão completamente</span><br /><span style="font-family: verdana;">é um trabalho árduo.</span><br /><span style="font-family: verdana;">Fingir que é dor, fingir ser amor.</span><br /><span style="font-family: verdana;">Fingir ser abstrato.</span><br /><span style="font-family: verdana;">Chegar na sensação de ser nada,</span><br /><span style="font-family: verdana;">e que acaba sendo tudo.</span><br /><span style="font-family: verdana;">Chegar onde emoções imperam</span><br /><span style="font-family: verdana;">é um trabalho árduo.</span><br /><span style="font-family: verdana;">Até para Fernando Pessoa.</span>Lara.http://www.blogger.com/profile/05387822412297591730noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6131551201365534346.post-23621012308773430972009-09-07T21:02:00.004-03:002009-09-07T21:12:16.023-03:00casaco.<span style="font-family:verdana;">Ela sentia frio.</span><br /><br /><span style="font-family:verdana;">Dentro, estava insuportável. Suas mãos geladas esfregavam-se uma na outra, na vaga esperança de que o atrito lhe desse calor. As pernas tremiam. Sua mandíbula, inquieta, debatia-se contra seu maxilar. A pele tornava-se arroxeada em alguns pontos. Ela se abraçava.</span><br /><br /><span style="font-family:verdana;">Ele sentia calor.</span><br /><br /><span style="font-family:verdana;">Protegido por seu casaco, seus braços estavam aquecidos e confortáveis. As meias forravam seus dedos dos pés. O frio, para ele, era agradável. Não se sentia mal debaixo das grossas vestes, até que notou o frio que ela sentia.</span><br /><br /><span style="font-family:verdana;">Por que ele não a abraçava? Por que ele não transmitia o calor, que emanava de sua pele, para ela?</span><br /><br /><span style="font-family:verdana;">- Pegue meu casaco.</span><br /><br /><span style="font-family:verdana;">Ela aceitou.</span><br /><br /><span style="font-family:verdana;">Mas continuava preferindo um abraço.</span>Lara.http://www.blogger.com/profile/05387822412297591730noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-6131551201365534346.post-7162786728053138952009-09-01T20:09:00.001-03:002009-09-01T20:11:52.580-03:00reflexo.<span style="font-family: verdana;">Encarando-se no espelho.</span><br /><span style="font-family: verdana;">Olhando bem nos meus olhos,</span><br /><span style="font-family: verdana;">almejando por lê-los.</span><br /><span style="font-family: verdana;">São eles dóceis ou frios?</span>Lara.http://www.blogger.com/profile/05387822412297591730noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-6131551201365534346.post-71589009231866205492009-08-15T21:41:00.002-03:002009-08-15T21:53:37.887-03:00temas proibidos.<span style="font-family: verdana;">Alguns temas são trazidos à tona em uma conversa só para, aparentemente, dar discórdia. Estão todos felizes, falando sobre a novela, até que alguém resolve discutir política. E então a felicidade da conversa é sugada por forças abstratas rapidinho.</span><br /><br /><span style="font-family: verdana;">Os assuntos mais perigosos de se ingressar são exatamente a política, a religião e, claro, futebol. Corações negros pulsam com vigor e a discussão dá o ar da graça.</span><br /><br /><span style="font-family: verdana;">Futebol é potencialmente letal, pois quem entende desse esporte pode até tornar-se um agressor de sangue frio.</span><br /><br /><span style="font-family: verdana;">A religião é discutida veemente, talvez por depender da fé. Além dos fanáticos religiosos, temos os que nem religião tem. A Palestina é um bom exemplo sobre o quão discutir religião é fatal. Principalmente quando a discussão é substituída por bombas.</span><br /><br /><span style="font-family: verdana;">E, política, enfim. Comentários são desnecessários.</span><br /><br /><span style="font-family: verdana;">Então eu planejo nunca escrever algo sobre isso aqui. Isso e também sobre meu ciclo menstrual, que não os interessa.</span>Lara.http://www.blogger.com/profile/05387822412297591730noreply@blogger.com3