24.11.11

janela.

Espírito amigável, timidez não era um de seus aspectos. Seu nome, ao dançar na boca de alguém, tinha timbre de palavra alegre. Seus olhos azuis eram marcantes para aqueles que a conheciam.

Ela não entendia, porém, porque as pessoas não viam serem seus olhos obviamente castanhos. Fitava-se no espelho, incrédula sempre ao constatar que seus olhos não eram azuis, algo que as pessoas tinham como certo. Considerou a possibilidade de ser daltônica. Fora também ao oculista. "Nada de errado com seus olhinhos azuis, menina".

Apesar de se divertir na maior parte do tempo, não se sentia confortável em alguns momentos de não-euforia. Às vezes parecia estar assistindo a uma cena como espectadora, até alguém lhe fisgar, e ela voltar ao lugar onde seu corpo estava. Rodeada de pessoas, se sentindo só.

Sentia ser a garota dos olhos azuis, mas não podia negar a garota dos olhos castanhos: invisível, mas existente. A garota dos olhos azuis dentro dela sentia-se saciada, mas era egoísta. A garota dos olhos castanhos tinha fome.

Bipe de celular, uma mensagem. "Estou aqui te esperando". A sua carona. Achou o carro da Brenda e foi-se ao encontro de seus amigos.

E ela ria. E esquecia dos olhos castanhos que tinha e que, para os outros, não existiam. O tempo passando e começaram alguns a irem embora. Mas ela continuava lá, e ela ria.

- Aonde está a Brenda?
- Está se agarrando com o Lucas. - foi o que respondeu um dos seus amigos. Ela estava a sós com ele no cômodo, agora. Brenda tinha o costume de ser uma das últimas a ir embora, por conseguinte, ela também.

Conversas entre duas pessoas são poderosas. Ativam assuntos adormecidos e desinibem a alma, quando estamos entorpecidos e há conexão.

Depois de longo tempo de conversação, o silêncio imperou. Somado ao contato visual intenso, olho no olho, dá sensação de nudez.

Você tem lindos olhos castanhos, ele disse, palavras pairantes no ar. A visão é altruísta, dá lugar ao tato e ao paladar.

E o contato passou do visual.

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