14.12.09

aquele na rua

A rua suja, a alma suja
Confusão, paranoia
E girando, o mundo realmente gira
Túrgido, embaçado
Onde? Quando?

A serotonina então se foi
E a mancha rubra suja
mancha ainda mais a rua suja

17.11.09

revolta.

Estar revoltada é um porre. Você odeia tudo o que vê, e ainda distorce suas visões, para odiar mais. Acha que ninguém se importa com você, e decide fazer o mesmo para com os outros. Fica triste por ter a vida que tem, e ser o que é, e por estar deprimida. Quer se mudar para outra cidade, outro estado, outro país, e começar tudo de novo, sem ser a idiota que é. Não consegue ocupar a mente, e só pensa em defeitos. Tranca-se no quarto ou no banheiro e olha para o chão, pensando no que fez de errado. Você não presta, ninguém presta, a raça humana não presta, o planeta não presta. E, puts, por que esse ano não acaba logo ou quero ter minha própria vida. Daí você come qualquer coisa, ouve uma música, se deita e dorme. Quando acorda, já melhor, vê que tudo não é tãaao ruim assim.

3.11.09

falta de inspiração.

Nenhuma palavra.
Nenhuma metáfora.
Nenhuma emoção.
Só vagas linhas tentando expressar sentimento.
Em vão.

13.10.09

berlioz.

- A pedreira em que meu marido trabalha está quase ao ponto de fechar.
- A pedreira? Ela sempre foi um estabelecimento tão estável! Mesmo sendo maçante para seu marido. Passar o dia jogando água nas pedras. Afinal, as pessoas só compram pedras bem furadas. Mas por que vai fechar?
- Você sabe bem como o dono da pedreira, o seu Ernesto, é. Pode-se notar pela época em que ele passava horas a fio brigando com a esposa. Quando o pobre do Jairo, o entregador de café, meteu acidentalmente uma colher entre os casados, ele foi demitido sem dó nem piedade. Mas a situação foi mais grave. Houve um assassinato.
- Um assassinato! Meu Deus, não foi um atentado ao Jairo, por seu pequeno crime, foi?
- Não. Foi um atentado ao gato do seu Ernesto. Ele quase teve uma síncope ao ver o bichano esparramado e sangrento no chão.
- Como é que é?
- Delatando o crime: tudo começou no dia que o Breno, com preguiça de escrever, pôs uma bela imagem de um pelicano no cartaz publicitário da pedreira, ao invés da frase “as pedras daqui são as mais bem furadas do país” ou algo do gênero.
- Breno é o apressado?
- Sim, é ele. Ele se separou da mulher dele, a dona Perfeição, soube?
- Não, eu não soube. Mas ele é até rico, vendendo o tempo nas horas vagas. E o que faz a Perfeição agora?
- Ela foi a Roma.
- Por que Roma?
- Ela tinha uma boca enorme.
- Fugimos do assunto principal. Continue a falar do assassinato do gato do Ernesto.
- Enfim, no dito dia, as paredes ouviram um rumor sobre o Breno, de que ele estava vendendo pedras por o preço de um olho. A mãe dele estava precisando de um transplante de córnea, sabe como são as coisas.
- E daí?
- Pois um senhor queria comprar uma pedra, e este tentou dar-lhe um cavalo, e não um olho. O cavalo era banguela, mas Breno o aceitou, mesmo assim. Mais tarde o senhor trocou um olho pelo seu olho, o que não foi uma troca vantajosa, pois o simpático senhor ficou com um olho de cada cor.
- E o cavalo do Breno matou o gato?
- Não. O cavalo fazia parte de uma instituição em amor aos gatos.
- Então, o que tudo isso influi em sua narrativa sobre um assassinato?
- As pessoas da pedreira ficaram curiosas! Foi isso que aconteceu! A curiosidade é perigosa, fatal para os gatos. O pobre Berlioz morreu na hora.
- Que dó. O gato era feio como o diabo, porém.
- Mas Ernesto o amava.
- Isso tudo acontece porque Ernesto é torto: vai morrer assim. E por causa da mulher dele, também.
- O que tem a mulher dele?
- Ela vive falando, aos quatro ventos, nas suas brigas com o marido: “onde come um, comem dois!”.


-
esse texto faz alusão a provérbios, não sei se ficou tão claro. uma tentativa (mal-sucedida) de algo nonsense. nonsense é muito difícil para mim. q

5.10.09

perguntas.

Por que vivemos? Como alguém é racional e emocional ao mesmo tempo? Existe um destino a ser seguido? O que é a morte, além da ausência da vida? Como funciona o cérebro? Existe um Deus? Como se explica efeitos paranormais? Somos todos naturalmente bons ou maus? Por que pensamos, e como os pensamentos são formulados? A apocalipse acontecerá? Qual roupa usar domingo a noite?

Isso mostra como as perguntas envolvendo números ou elementos químicos são relativamente fáceis.

Pelo menos, elas têm resposta.

20.9.09

poeta.

Às vezes dá vontade de ser poeta.
Mas fingir tão completamente
é um trabalho árduo.
Fingir que é dor, fingir ser amor.
Fingir ser abstrato.
Chegar na sensação de ser nada,
e que acaba sendo tudo.
Chegar onde emoções imperam
é um trabalho árduo.
Até para Fernando Pessoa.

7.9.09

casaco.

Ela sentia frio.

Dentro, estava insuportável. Suas mãos geladas esfregavam-se uma na outra, na vaga esperança de que o atrito lhe desse calor. As pernas tremiam. Sua mandíbula, inquieta, debatia-se contra seu maxilar. A pele tornava-se arroxeada em alguns pontos. Ela se abraçava.

Ele sentia calor.

Protegido por seu casaco, seus braços estavam aquecidos e confortáveis. As meias forravam seus dedos dos pés. O frio, para ele, era agradável. Não se sentia mal debaixo das grossas vestes, até que notou o frio que ela sentia.

Por que ele não a abraçava? Por que ele não transmitia o calor, que emanava de sua pele, para ela?

- Pegue meu casaco.

Ela aceitou.

Mas continuava preferindo um abraço.

1.9.09

reflexo.

Encarando-se no espelho.
Olhando bem nos meus olhos,
almejando por lê-los.
São eles dóceis ou frios?

15.8.09

temas proibidos.

Alguns temas são trazidos à tona em uma conversa só para, aparentemente, dar discórdia. Estão todos felizes, falando sobre a novela, até que alguém resolve discutir política. E então a felicidade da conversa é sugada por forças abstratas rapidinho.

Os assuntos mais perigosos de se ingressar são exatamente a política, a religião e, claro, futebol. Corações negros pulsam com vigor e a discussão dá o ar da graça.

Futebol é potencialmente letal, pois quem entende desse esporte pode até tornar-se um agressor de sangue frio.

A religião é discutida veemente, talvez por depender da fé. Além dos fanáticos religiosos, temos os que nem religião tem. A Palestina é um bom exemplo sobre o quão discutir religião é fatal. Principalmente quando a discussão é substituída por bombas.

E, política, enfim. Comentários são desnecessários.

Então eu planejo nunca escrever algo sobre isso aqui. Isso e também sobre meu ciclo menstrual, que não os interessa.

10.8.09

o pato.

O pato disse para a pata que ia refrescar suas patinhas. Pobre pata. Na verdade, o pato ia se refrescar com outras patinhas.
Moral da história: não confie em patos.
-

sim, eu sei que isso é terrivelmente mongol.

7.8.09

rabisco.

Ali, naquele papel um pouco mais digno que um guardanapo ou daquilo que usamos no banheiro, ela rabiscava furiosamente.

O que rabiscava? Ela não sabia. Nem passou pela sua cabeça que poderiam ser formas derivadas do inconsciente do seu cérebro, expondo algo trancafiado na sua mente, exprimindo até mesmo desejos do seu ID. Não, ao invés disso, ela só pensou que fossem formas produzidas por uma imaginação perturbada. Gostava de linhas retas e simetria. O que Freud acharia disso?

Fixou o olhar no papel.

Era só sua imaginação perturbada mesmo.

1.8.09

lista.

Filmes são tão importantes. Marcantes. Emocionantes. Fazer a lista dos meus dez filmes favoritos foi difícil, mas acho que consegui fazer um bom trabalho.

Amadeus, 1984.
De Volta Para o Futuro, 1985.
Forrest Gump, 1994.
Um Grande Garoto, 2002.
A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça, 1999.
Maria Antonieta, 2006.
Orgulho e Preconceito, 2005.
Pequena Miss Sunshine, 2006.
Sociedade dos Poetas Mortos, 1989.
Sweeney Todd, 2007.

22.7.09

seres humanos.

A raça humana é tipicamente terrestre. Seres humanos são capazes de fazer inúmeras atividades, como jogar ping pong. Eles têm dois olhos, um nariz, uma boca, duas orelhas e até mesmo cinco dedos em cada uma de suas duas mãos. Geralmente, pelo menos. Aberrações cromossômicas não são muito comuns.

Existiram seres humanos geniais, tendo como exemplo Einstein, Freud, Pasteur, Mozart e alguns consideram também Chaplin. Mas a grande maioria da espécie não passa de completos babacas que se consideram superiores por terem capacidades como a de jogar ping pong.

A mente humana é por vezes complicada. O cérebro é dividido em várias partes que atuam juntas, contando também com os neurônios. Mas nem sempre a razão comanda o ser humano. Os hormônios são também influentes em ações. Ainda é um mistério o que faz com que muitos da espécie achem que ganhar na loteria é a forma mais inteligente de ficar rico.

Em resumo, boa parte dos seres humanos tem a audácia de se considerar mais sagaz que golfinhos, mas não passam de babacas.

Inclusive eu.

E nem sei sequer jogar ping pong.

16.7.09

café da manhã.

Pão fresco sobre a mesa.
Calor do café pela garganta.
Começa um novo dia.
Ah, mais um dia.

10.7.09

telefonema.

- Alô?
- Alô, Fulana? É a Ciclana.
- Ciclana, tudo bom?
- Tudo ótimo. Quero dizer, tudo ótimo nada. Eu liguei justamente para te dizer a situação ridícula em que estou.
- Ah. Tá. O que foi?
- Você sabe, Fulana, que eu estou malhando na academia que é em frente daqui de casa, né?
- Aham.
- Pois é. Um cara de lá, o Márcio, convidou a mim e a Isabela para um bar aí há, tipo, um mês. A Isabela, aquela vaca. Você acredita que outro dia ela jogou café em mim de propósito e teve a cara de pau de fingir que foi sem querer? Fala sério, ela faz isso só porque ela está super a fim do Márcio, e ele prefere conversar comigo do que com ela! Também, do jeito que a Isabela é tosca, o Márcio não iria querer conversar tanto com ela... o que eu tava falando mesmo?
- O Márcio chamou você e a Isabela pra sair.
- Ah, é. Sim, isso faz tempo, já. O negócio é que, lá no bar, tinha um cara tão lindo, sabe? Com uns braços, que, pelo amor de Deus! Os olhos verdes e os cabelos castanhos, e ele tava lá, me encarando. Primeiro eu pensei que era só impressão minha, né. Mas até a Isabela notou. Ela ficou toda tipo "o que aquele cara quer?", e o cara veio na nossa mesa e tal.
- E começou a dar em cima de você.
- Inacreditável, mas foi. Daí desde aquele dia a gente tá saindo, se pegando.
- E por que só agora você me fala?
- Fulana, é que... ele é comprometido. Eu fui saber disso um dia desses, tava me sentindo a maior vadia, mas vadia mesmo é a namorada do Bruno.
- O nome dele é Bruno?
- É.
- Bruno Vasconcelos?
- Como você sabe?
- Porque ele é meu namorado.
- ...! Mundo pequeno, eim, amiga?

6.7.09

trecho de emma.

O sr. Knightley pareceu querer impedir-se de sorrir, o que conseguiu sem maiores dificuldades, pois a sra. Elton começou a falar com ele.
-

Emma, de Jane Austen, página 296.
Sr. Knightley é um amor, adoro.

4.7.09

festinha inconveniente.

Dez pessoas na casa dele era o máximo que seus pobres nervos suportariam.

E agora viriam onze.

2.7.09

já dizia epicuro:

Por que ter medo da morte? Enquanto somos, a morte não existe, e quando ela passa a existir, nós deixamos de ser.

Desculpe, meu caro Epicuro, mas não pretendo 'deixar de ser' tão cedo. Prefiro adiar essa data, e continuar com medo dela, obrigada.

13.6.09

silêncio.

O silêncio é um som assustador.

O silêncio constrange. O silêncio é transparente e nos faz sentir transparência também. Ele percebe a confusão que há dentro de nós e quer nos ler.

O silêncio é perturbador. Ele deseja que pensemos, e pensar nem sempre é bom. O silêncio é reflexivo e ajuda a escutarmos o que vem de dentro de nós. Ele esclarece, e descondensa a cabeça.

O silêncio repreende, principalmente quando chega de súbito. Acaba por nos surpreender. Mas ele não é mal intencionado.

O silêncio é tão estranho, e, quando na hora certa, tão acolhedor. Aconchega nossa alma.

Eu acho que gosto do silêncio. Ele me faz companhia quando eu estou sozinha.

O silêncio é um som completo.

10.6.09

histórias.

Sou uma
criadora de histórias.
Na minha mente
há fantoches,
a realidade
ganha retoques.
Por eu ser uma
criadora de histórias.
A mescla de acontecimentos
acontece,
e a rotina
desaparece.
Controlo,
por eu ser uma
criadora de histórias.
Por que tenho tal caráter
de mera
criadora de histórias?

Sou uma
criadora de histórias.
Não por opção.
Histórias estouram,
chegam,
sem permissão.
Posso eu um dia
viver histórias,
e não
criá-las?

5.6.09

ops.

Nasci no lugar errado,
no tempo errado,
com as ideias erradas.
E eu gosto disso.

26.5.09

equação.

diversão = sentidos - razão
insanidade = sentidos - razão
diversão = insanidade

Comprovação matemática de como a insanidade é positiva. E pertence aos inteiros.

Pobres racionais.

14.5.09

precisa-se de espelho.

Gêmeas idênticas, personalidades opostas. Mesmo na inocência de seus cinco anos, era evidente para ambas que eram bem distintas uma da outra. A mais velha (ainda que por poucos minutos) caracterizava-se por ser uma peste - comprovado desde o dia em que colocara detergente transparente num copo onde sua mãe bebia água. A outra, porém, era doce e delicada. Amava Barbies com quase idolatria e era incrivelmente tola. As duas meninas eram tratadas igualmente, com exceção nos dias em que Juliana aprontava uma travessura de proporções muito grandes.

Naquele dia, a mais nova apareceu chorando, como se sua casinha de bonecas estivesse em chamas. Sua irmã gêmea estava saltitando, radiante, pelo apartamento. O contraste de humor era sempre presente nelas, mas não de forma tão clara. As lágrimas saiam dos olhos de Sofia com rapidez e intensidade, as grossas lágrimas de uma provocava as risadas da outra.

A infeliz da babá não conseguiu conter o choro da menininha. "Vai acordar sua mãe, Sofia!". Não adiantava em nada. A pobre criada não era formada em psicologia infantil para acalmá-la. Então, a mãe acordou, devido a baderna que Juliana fez propositalmente em seu quarto. Vendo sua outra filha chorar, a abraçou e perguntou com ternura o que acontecera.

Sofia respirou fundo e disse, em tom que inspirava pena:

- A Juliana me chamou de feia!

13.5.09

chá.

A chama saiu então da boca do fogão, aquecendo a água que estava em uma panela.


A noite encontrava-se fresca e agradável, pingos de chuva batiam suavemente contra o vidro da janela. Com exceção da cozinha, onde eu me localizava, a residência estava silenciosa, de forma pacífica.


Ponho a xícara sobre a mesa. Onde está o açucareiro? Não está no lugar usual.


Andando pelos ladrinhos da cozinha, sentindo o frio acolhedor do piso nos meus pés descalços. Uma brisa atravessa o cômodo, e noto o quão feliz estou. Por que estou feliz? Não sei. Para que quero saber por que estou feliz? Não sei. Estar feliz sem motivo é considerado algo bom, na maioria dos casos.


Aqui está o açucareiro! Estranhamente, dentro da geladeira. Não penso sobre isso, somente coloco duas colheres de açúcar dentro da xícara vazia.


Percebo que estou cantarolando uma canção qualquer. Sorrio com a ideia de que estou com um bom humor. Nada de extraordinário aconteceu, e, mesmo assim, a leveza de meu espírito impressiona.


Droga, não tem nenhum saquinho de chá. Vou usar canela em pó, então.


Pergunto a mim mesma se não estou feliz por ter terminado de ver um filme em que todos terminam bem ao fim. Era um filme bem banal, verdade. Não, não foi por causa do filme. Eu já estava alegre antes de vê-lo.


As bolhas que se desprendiam do fundo da panela até a superfície denunciavam que a água já se encontrava devidamente fervida. Apago o fogo da boca do fogão.


Talvez seja o clima que me deixa assim, pensei. Não senti calor nenhuma vez durante todo o dia. O céu estava nublado, o cheiro do ar emprestava algo campestre para plena Fortaleza. É, talvez seja o clima.


Despejando a água quente na xícara, admirando a fumaça que saia dela. A quantidade exata de canela em pó foi posta na água. A colher faz um som ao misturar o conteúdo da xícara.


Sorrio diante da xícara de chá. Está uma delícia.

27.4.09

nota máxima?

As provas já tinham sido corrigidas. O professor explicou, calmamente, que só entregaria os testes no dia seguinte, apesar de todos já estarem devidamente com suas notas. Alguns alunos sorriam uns para os outros, dizendo que provavelmente tirariam 10.


O pânico foi intenso em uma das alunas. Ela, mexendo em seu cabelo de maneira nervosa, não conseguia esconder seu medo. A aula seguiu-se tediosa, e a estudante não conseguia prestar atenção alguma nos números diversos da lousa. Ao tocar a sineta do fim da aula, o professor saiu tão apressado da sala quanto os alunos, esquecendo as provas sobre a mesa. Uma tentação para a garota que permaneceu mais tempo na sala que o usual.


Quando a sala de aula encontrava-se devidamente vazia, ela deu passos incertos até a mesa do professor. Desistiu de refletir sobre seus atos: achou sua prova rapidamente, seguindo a ordem alfabética. “Luciana Melo: 3,0”. Foi um tanto decepcionante para a garota que queria tanto fazer arquitetura, tirar um 3,0 em um teste de geometria. Não pensou duas vezes ao pegar a caneta do estojo e alterar o 3,0 para um 8,0. Saiu mais tranquila, e somente depois de longos minutos (quando Luciana já estava longe da sala de aula) o professor lembrou das provas deixadas dentro da classe.


No dia seguinte, a garota se apresentava mais calma. Dizia que não iria tirar nota baixa, que é boa em geometria. Então, chegou a hora da entrega das provas. O professor levantou-se e olhou de modo divertido para a classe.


- Bem, vou entregar agora a nossa última prova. Sabe, aquela cuja nota máxima era 5.

24.4.09

comédia romântica vs. suspense.

O casal estava discutindo há aproximadamente uma hora; ele fora até a residência da namorada, que o esperava pontualmente na calçada, arrumada dos pés até o último fio de cabelo. Marcaram de sair ao sábado à noite, iriam ao cinema. A discussão começou assim que ela entrara no carro, logo depois da pergunta “qual filme iremos assistir?”.


Um queria ver a comédia romântica que estreara há pouco, o outro desejava assistir um ótimo suspense que estava em cartaz no mesmo horário da comédia romântica. Os argumentos eram incontáveis, um atacava o outro dizendo que um filme tem de fazer as pessoas saírem alegres e dar prazer a quem assiste, fazer rirmos e chorarmos de felicidade. O outro contra-atacava, dizendo que o filme tem como objetivo emocionar, não importa qual emoção seja: os arrepios na nuca, torcer para que o personagem principal sobreviva. “E este personagem sempre morre”, resmungava de volta.


Chegaram, e em frente ao cinema ainda decidiam qual filme assistir. A guerra partira do gênero para a sinopse. “Uma história sobre um assassinato em uma ilha é bem mais interessante que um casal que se separou e agora luta para achar um novo amor”, falou um. O outro disse que um casal que se separa pode render até assuntos dramáticos e sérios, e sem a necessidade de morrer alguém ao fim. A resposta fora que um filme dramático seria indicado ao Oscar, e não ao Globo de Ouro. O outro continuou a resmungar: “quem liga para premiações?”.


O elenco foi discutido. O diretor. Até a trilha sonora (“admita que pop dá mais alegria a alma que uma trilha sonora somente instrumental”).


No fim, a garota deu um gritinho e enfim cedeu.


- Está certo, Rodrigo, eu assisto essa droga de comédia romântica. Agora, se for melosinho demais, você vai me devolver os sete reais.

17.4.09

"mas é um clássico!"

Acho que livrarias são lugares bem agradáveis. Não só por causa das pilhas de livros - sim, é o melhor de uma livraria, e o motivo principal das livrarias existirem -; mas também por seu cheiro diferenciado, e elas me parecem também aconchegantes. Não sei como definir, um ar quente e macio, ou algo do gênero.

Além dos fatores "livros" e "ambiente" em si, existem as pessoas que estão nas livrarias. Minha concentração em ler só é inteira quando estou em casa, então, tenho que admitir que algumas vezes finjo estar compenetrada em um livro, enquanto na verdade estou observando as pessoas por cima das páginas que estão na minha frente, ou talvez olhando os outros somente pelo canto do olho. Muitas pessoas de livrarias são boas de se observar, mas acho que as que eu mais gosto de ver são as pseudocults da minha idade, quando estão com livros já adaptados para o cinema (as que leem Crepúsculo me fazem rir), principalmente quando acompanhadas de amigos. No caso, não foi uma pessoa da minha idade:

Eu estava sentada no sofá da Siciliano, enquanto minha mãe saia pelo shopping afora. Não me lembro de qual livro estava em minhas mãos, acho que um da Meg Cabot, de história bem leve. Engolia o livro assim como o sofá me engolia (estava eu afundada nele, e não era algo ruim), mas a conversa de uma garotinha me prendeu a atenção.

O nariz empinado, o cabelo liso e curto, os óculos escorregando do nariz. A menina deveria ter por volta dos seis anos, e estava acompanhada de um garoto mais velho, da minha idade, talvez. O garoto, que presumi ser seu irmão, parecia entediado. A menininha estava vasculhando livros, com o ar altivo. Não os livros infantis, com imagens de princesas com vestidos rosas na capa dura de papelão, e sim a série de Harry Potter. Ela pega o mais grosso dentre eles, e anda pela livraria inteira com o livro debaixo do braço. Procura por mais livros. Ela olha para O Código da Vinci seriamente, mas desiste de pegá-lo.

O seu irmão parece impaciente. "Vamos, vamos, quero ainda ir até o McDonald's". A menina anda até o garoto e diz que vai ler um pouco. O garoto olha para ela como se quisesse arrastá-la para fora da livraria. "Qual foi o livro que você pegou?", ele pergunta. Ela responde, com ar sério, lendo da capa do livro: "Harry Potter e a O-or-dem da... Fê...". Era claro que ela tinha se alfabetizado recentemente. O irmão disse o título do livro para ela, e que se ela estivesse interessada nele, ele poderia alugar o filme um dia.

"Mas é um clássico!", a menina fala. "Um clássico da literatura!"

Não sei porque essa história ficou gravada na minha mente. Acho que a visão do garoto levando a menina pelo pulso, dizendo que estava com fome, que tinha que achar a mãe que estava na Riachuelo, que estava tarde, e ele jogando o livro para cima do sofá onde eu estava sentada foi bem mais marcante que a tentativa de leitura da garotinha.

Da próxima vez, que ela escolha um gibi da Mônica.

- Lara tinha que postar algo, e esta era a coisa mais recente que ela tinha escrito, Lara manda desculpas para quem lê -

6.4.09

músicas, filmes, livros.

Músicas, filmes, livros: meu refúgio. Acompanhar uma voz ritmada me faz esquecer de onde eu estou. Uma dose de ficção me faz sentir de melhor estado de espírito. A fantasia nos ajuda a encarar problemas; a emoção faz de nós mais fortes; canalizar nossa mente e concentração nos mantém sãos. A cultura que nos destaca entre os seres vivos, a cultura é poder, a cultura é criação.

Quando estou absorvendo um desses elementos, bloqueio da mente meus problemas, bloqueio da mente meu cotidiano, bloqueio da mente o meu mundo. Oh, we all want to change the world.

22.3.09

geografia.

Os sons são abafados dentro da cela que chamamos de quarto; o cômodo mais cômodo quando este lhe pertence, mas posso ouvir os passos do vizinho do andar de cima. O lápis que rabisca rapidamente a página faz um som baixo, quase imperceptível.

O livro de geografia me encara, esperando que eu o analise para o teste de quarta feira. Suspiro. "Costuma-se dividir a sociedade capitalista em duas principais classes sociais". Suspiro. Vou à cozinha beber água? "A burguesia: composta de capitalistas, donos dos meios de produção ou empresas; e o proletariado: constituído por aqueles que não possuem meios de produção e (...)" Bem, isso é um livro de geografia. Por que o conteúdo de história está dentro dele? "O capitalismo, embora tenha começado nos séculos XV e XVI, só se tornou sistema dominante, atingindo seu estado pleno, com a Revolução Industrial e (...)" Suspiro. É, vou beber água.

O som do lápis a rabiscar é encerrado, timidamente substituído pelo som oco de meus passos, que me levavam em direção à cozinha.

21.3.09

insônia.

Não estou cansada o suficiente
para deitar-me e dormir com calma.
Os pensamentos surgem espontaneamente,
como se donos de uma própria alma.

A lua pela janela me encara,
doce e serena luz a brilhar.
Mas continuo com borboletas no estômago
e mais reflexões para me incomodar.

A insônia me faz comprovar
o quão sou uma máquina pensante.
Porém usualmente me sinto mais
como uma icógnita ambulante.
-

dica: a segunda estrofe ficou um lixo.

16.3.09

sensações.

Acho que vi algo. Eu vi realmente ou somente imaginei ver? Senti um calafrio, por algum motivo inexistente, me arrepiando por completo. Parece que ouvi um sussurro baixinho, incrivelmente perto de minha orelha. O modo de respirar das pessoas começa a me irritar. Tudo parece girar em torno de mim, devido a tontura que me obriga a dar passos errantes, destruindo o pouco de equilíbrio que possuo. Eu sou louca ou o mundo é louco?

Estou a ponto de acreditar que somos nós dois inteiramente malucos.

10.3.09

dançar.

(carta)
"Quanto a dançar, minha querida, eu nunca danço, a menos que me seja permitido fazê-lo de minha própria maneira peculiar. É inútil tentar descrevê-la: só vendo para acreditar. Na última casa em que tentei, o piso desabou. (...) Alguma vez você já viu o Rinoceronte e o Hipopótamo, no Jardim Zoológico, tentando dançar um minueto juntos? É um espetáculo comovente".

por Charles Lutwidge Dodgson, ou Lewis Carroll.

23.2.09

oscar.

- Mãe, a Kate Winslet ganhou o Oscar!

- Ah. A Meryl Streep ganhou o de melhor atriz?

- Eu acabei de falar que a Kate Winslet ganhou.

- E eu lá sei quem é essa Kate Winslet.

- Mãe. A Titanic.

- Ela ganhou? Que bom que ela ganhou!


O Oscar é completamente político, inteiramente forjado. E quem não sabe disso? Mas quase todos (não vamos generalizar, hm) gostam de dizer que acabou de assistir, sei lá, O Curioso Caso de Benjamin Button, que foi indicado a treze oscars. A academia é cheia de tramoias, ninguém duvida disto. Mas continua sendo divertido, seja para sentir vontade de assistir Quem Quer Ser Um Milionário? (que recebeu oito oscars para casa, resolveram puxar o saco de um filme não-americano desta vez), seja para ver o Hugh Jackman apresentando, ou para rir das roupas e dos penteados das pessoas. E a última deve ser a mais divertida de todas.

15.2.09

ler.

Não existe frase mais piegas que "ler é como uma viagem num mundo único", todos sabemos disso; mas nós (os que leem, na verdade) não podemos deixar de concordar com ela. Sejamos francos: quem não gosta de ler não sabe o que está perdendo com um livro.

O que me faz ler, acho, são as emoções que sinto através dos livros. Às vezes sinto alegria até a ponta dos dedos dos pés, outras vezes eu quero explodir alguém. Sinto o alívio quando algo ruim passa, gargalho com passagens divertidas. Quem nunca sorriu ao ler? Quem nunca se sentiu agoniada por algum personagem ao ler? Quem nunca ficou pensando algo como "por que você fez isso?, puts" ao ler?

Diversidade em livros, temos, aos montes. De clássicos à fantasia. Não gosta de Cinco Minutos, pode ser que Crepúsculo agrade. Detesta ficção? Tente romances. Não suporta uma história em que dá vontade de chorar? Vá ler alguma comédia. Horror aos livros nacionais? Tente os americanos e ingleses!

Pior são aqueles que leem e não admitem aos outros que gostam disto, para serem incluídos em grupos em que ler é algo maçante. Vergonha, é esse o termo. Qual é o problema em tentar aumentar sua cultura? É ruim se divertir de um jeito saudável? É preciso se drogar ou algo do tipo para ter diversão?


O motivo de muitos não gostarem de ler seria, quem sabe, a leitura obrigatória no colégio de um livro tedioso em que o autor não sabe fazer uma cena convincente qualquer. Talvez seja isto, uma espécie de trauma. É.

Pareço uma nerd defendendo a leitura, eu sei. Talvez eu seja isso mesmo, uma nerd. Ainda mais quando, nesta sociedade, ser leitor é o mesmo que ser nerd. Tanto faz. Eu tentei.

22.1.09

mentiras.

Here's to the liars who dream and conpire; against the admired, we hope you drop dead.

Todos nós sabemos que mentir é errado. A verdade é uma virtude, e crianças de três anos já sabem disto. Então, por que mentimos?

Não acho que mentir - ou omitir - seja algo de extrema maldade, dependendo da mentira contada. Já ouvi em algum lugar que "uma mentira é sempre uma mentira, não há mentiras maiores ou menores". Eu não concordo. Para mim, existem sim mentiras de gravidades bem diferentes.

Entre magoar alguém ou mentir, prefiro a segunda (às vezes prefiro a primeira); talvez porque eu seja muito mole para com emoções. Isso se encaixa em agradar a tia que fez um doce de leite péssimo ("aah, está ótimo!") ou recusar o convite para uma festa ("nossa, eu vou ao ortodontista, que pena"). Provavelmente, esconder uma má notícia está neste grupo.

Vocês podem me acusar de uma mentirosa, uma pessoa nada sincera, mas também não é assim. Esconder as nossas opiniões e tudo que passa na nossa mente pode trazer grandes apuros a qualquer ser. E há mentiras de tirar alguém do sério. Então, posso concordar com o we hope you drop dead lá de cima.

- reflexões (?) durante One For the Radio, do McFly -
- Lara riu nesta parte da música na primeira vez que a escutou -

19.1.09

ação.

Existem vários tipos de filme; em qualquer locadora (que tenha um número considerável de DVDs) você pode conferir. Temos os de suspense, para ficarmos tensos e esperando tudo dar certo; comédia, às vezes bons para descontrair uma tarde de domingo; drama, fatal para os emotivos, em que geralmente um personagem querido morre; romance, também fatal para os emotivos, usualmente repleto de frases clichês; os cult, clássicos raramente apreciados pela massa da juventude e muito mais, como terror (particularmente: detesto estes), aventura, animação, policiais, ficção científica, far west e...

Os de ação. Sem querer ofender os que gostam de uma boa explosão, acho esse gênero o mais vazio de todos. Nemo tem muito mais conteúdo, que, bem, Lara Croft. Você nem precisa raciocinar ao assistir. Talvez por isso que os homens gostem tanto desse tipo de filme (haha, brincadeirinha).

Não querendo detonar filmes como Star Wars - nunca assisti, mas acho que é mais ficção científica que ação -, ou Indiana Jones (é mais para aventura, mas, enfim), ou blockbusters como Transformers e Batman. Só que tem alguns que, sério mesmo, me dão sono.

É, talvez eu não aprecie filmes assim. Há gosto para tudo, não é verdade? Mas entre Rambo e Tempos Modernos, eu escolheria ver um do Charles Chaplin, sem dúvida alguma.

17.1.09

sinto tédio.

O mais puro tédio. Bocejo.

9.1.09

aniversário (atrasado).

É tão bom fazer aniversário. Porque é como se você prevesse alguma mudança no ar, que algo diferente está para vir; e essa idéia de mudança - para mim, pelo menos - é muito boa. Espera-se algo melhor aparecer, porque ninguém é realmente completo totalmente. Sempre podemos encaixar alguns detalhes aqui e ali, que faria termos um bem-estar maior.

E é divertida a idéia de que quando somos menores, nossos pensamentos são tão reduzidos. É algo maravilhoso não saber de tudo, e não saber que não sabemos de tudo. Evita tantos sofrimentos e constrangimentos. Mas é ótimo, também, saber que a cada ano que passa nós sabemos mais e mais.

"Lara, parabéns!" foi o que disse a amiga de minha irmã mais nova. Só respondi "obrigada, Érika". Ela foi adiante e questionou: "quantos anos você fez mesmo?". Falei que tinha completado catorze. Ela arregalou os olhos e exclamou: "Eita!". Ri demais por causa disto. Se eu falasse que tinha catorze no meu colégio, iriam me achar a pequenininha. Para a Erika, eu sou uma gigante e velha.
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Meu aniversário foi, na verdade, dia 27/12. Faz tempo, eu sei. Estava tão ocupada (mentira, estava aproveitando as minhas férias e o Ano Novo) que esqueci de postar pelo menos alguma linha sobre o meu envelhecimento. Que palavra forte. Então, sobre o meu aniversário. É, ficou mais leve.