17.11.09

revolta.

Estar revoltada é um porre. Você odeia tudo o que vê, e ainda distorce suas visões, para odiar mais. Acha que ninguém se importa com você, e decide fazer o mesmo para com os outros. Fica triste por ter a vida que tem, e ser o que é, e por estar deprimida. Quer se mudar para outra cidade, outro estado, outro país, e começar tudo de novo, sem ser a idiota que é. Não consegue ocupar a mente, e só pensa em defeitos. Tranca-se no quarto ou no banheiro e olha para o chão, pensando no que fez de errado. Você não presta, ninguém presta, a raça humana não presta, o planeta não presta. E, puts, por que esse ano não acaba logo ou quero ter minha própria vida. Daí você come qualquer coisa, ouve uma música, se deita e dorme. Quando acorda, já melhor, vê que tudo não é tãaao ruim assim.

3.11.09

falta de inspiração.

Nenhuma palavra.
Nenhuma metáfora.
Nenhuma emoção.
Só vagas linhas tentando expressar sentimento.
Em vão.

13.10.09

berlioz.

- A pedreira em que meu marido trabalha está quase ao ponto de fechar.
- A pedreira? Ela sempre foi um estabelecimento tão estável! Mesmo sendo maçante para seu marido. Passar o dia jogando água nas pedras. Afinal, as pessoas só compram pedras bem furadas. Mas por que vai fechar?
- Você sabe bem como o dono da pedreira, o seu Ernesto, é. Pode-se notar pela época em que ele passava horas a fio brigando com a esposa. Quando o pobre do Jairo, o entregador de café, meteu acidentalmente uma colher entre os casados, ele foi demitido sem dó nem piedade. Mas a situação foi mais grave. Houve um assassinato.
- Um assassinato! Meu Deus, não foi um atentado ao Jairo, por seu pequeno crime, foi?
- Não. Foi um atentado ao gato do seu Ernesto. Ele quase teve uma síncope ao ver o bichano esparramado e sangrento no chão.
- Como é que é?
- Delatando o crime: tudo começou no dia que o Breno, com preguiça de escrever, pôs uma bela imagem de um pelicano no cartaz publicitário da pedreira, ao invés da frase “as pedras daqui são as mais bem furadas do país” ou algo do gênero.
- Breno é o apressado?
- Sim, é ele. Ele se separou da mulher dele, a dona Perfeição, soube?
- Não, eu não soube. Mas ele é até rico, vendendo o tempo nas horas vagas. E o que faz a Perfeição agora?
- Ela foi a Roma.
- Por que Roma?
- Ela tinha uma boca enorme.
- Fugimos do assunto principal. Continue a falar do assassinato do gato do Ernesto.
- Enfim, no dito dia, as paredes ouviram um rumor sobre o Breno, de que ele estava vendendo pedras por o preço de um olho. A mãe dele estava precisando de um transplante de córnea, sabe como são as coisas.
- E daí?
- Pois um senhor queria comprar uma pedra, e este tentou dar-lhe um cavalo, e não um olho. O cavalo era banguela, mas Breno o aceitou, mesmo assim. Mais tarde o senhor trocou um olho pelo seu olho, o que não foi uma troca vantajosa, pois o simpático senhor ficou com um olho de cada cor.
- E o cavalo do Breno matou o gato?
- Não. O cavalo fazia parte de uma instituição em amor aos gatos.
- Então, o que tudo isso influi em sua narrativa sobre um assassinato?
- As pessoas da pedreira ficaram curiosas! Foi isso que aconteceu! A curiosidade é perigosa, fatal para os gatos. O pobre Berlioz morreu na hora.
- Que dó. O gato era feio como o diabo, porém.
- Mas Ernesto o amava.
- Isso tudo acontece porque Ernesto é torto: vai morrer assim. E por causa da mulher dele, também.
- O que tem a mulher dele?
- Ela vive falando, aos quatro ventos, nas suas brigas com o marido: “onde come um, comem dois!”.


-
esse texto faz alusão a provérbios, não sei se ficou tão claro. uma tentativa (mal-sucedida) de algo nonsense. nonsense é muito difícil para mim. q

5.10.09

perguntas.

Por que vivemos? Como alguém é racional e emocional ao mesmo tempo? Existe um destino a ser seguido? O que é a morte, além da ausência da vida? Como funciona o cérebro? Existe um Deus? Como se explica efeitos paranormais? Somos todos naturalmente bons ou maus? Por que pensamos, e como os pensamentos são formulados? A apocalipse acontecerá? Qual roupa usar domingo a noite?

Isso mostra como as perguntas envolvendo números ou elementos químicos são relativamente fáceis.

Pelo menos, elas têm resposta.

20.9.09

poeta.

Às vezes dá vontade de ser poeta.
Mas fingir tão completamente
é um trabalho árduo.
Fingir que é dor, fingir ser amor.
Fingir ser abstrato.
Chegar na sensação de ser nada,
e que acaba sendo tudo.
Chegar onde emoções imperam
é um trabalho árduo.
Até para Fernando Pessoa.

7.9.09

casaco.

Ela sentia frio.

Dentro, estava insuportável. Suas mãos geladas esfregavam-se uma na outra, na vaga esperança de que o atrito lhe desse calor. As pernas tremiam. Sua mandíbula, inquieta, debatia-se contra seu maxilar. A pele tornava-se arroxeada em alguns pontos. Ela se abraçava.

Ele sentia calor.

Protegido por seu casaco, seus braços estavam aquecidos e confortáveis. As meias forravam seus dedos dos pés. O frio, para ele, era agradável. Não se sentia mal debaixo das grossas vestes, até que notou o frio que ela sentia.

Por que ele não a abraçava? Por que ele não transmitia o calor, que emanava de sua pele, para ela?

- Pegue meu casaco.

Ela aceitou.

Mas continuava preferindo um abraço.

1.9.09

reflexo.

Encarando-se no espelho.
Olhando bem nos meus olhos,
almejando por lê-los.
São eles dóceis ou frios?