1.7.12

multiverso.

- Quem é você? E onde eu estou?
- Sonhando. Sente-se.
- Não sabemos quando estamos sonhando.
- Existe algo chamado sonho lúcido, a consciência de se estar adormecido. Os sonhos são entidades vivas e independentes. Não vá, espere um minuto.
- A porta está trancada? Pode abrir agora, seu filho da puta, ou ligo para a polícia. Onde está meu celular?
- Não sei, o sonho é seu. Acalme-se, não há sentido em quebrar as coisas. Não são minhas, de qualquer modo. Esse vaso não me afeta.
- Prove que estou sonhando.
- Ah, você sabe que está, no fundo.
- Que barulho foi esse? Acho que ouvi alguma coisa, nesse quarto, o que foi isso?
- Talvez seja o colapso de um novo universo nascendo.
- Que porra é essa que você está falando?
- O multiverso. Realidades diferentes da que vemos, há um universo na cabeça de cada um, dançando entre os neurônios. O mistério envolto na mente humana? Temos uma capacidade única de criar universos. Um universo com nossas próprias leis. E temos janelas para espiarmos: os sonhos. Quando morremos, eles conquistam liberdade e eclodem em outro lugar. Talvez tenha sido isso.
- Você é louco.
- Fui criado por você. Você é louco. E, por ser louco, me chama de louco. Você está se projetando.
- Você está sugerindo outros universos no cérebro de alguém. E me trancou aqui para ouvir suas teorias. Acho que você precisa bem mais de um psiquiatra.
- Deve ser duro, para você, descobrir isso. Saber ser produto da mente de alguém, de outra realidade, que morreu e, assim, deixou um universo independente, também deve ser perturbador. Mas é a verdade, sua mente é autônoma. Existe aí um universo adormecido, acordado enquanto você dorme. Dando traços de sua existência ao fantasiarmos de olhos abertos e nas histórias que criamos, como um Harry Potter voando por aí, um dia. A religião ainda não capturou que o nosso maior mistério somos nós mesmos.
- Minhas fantasias são realidade, você disse?
- Naquele dia em você bateu para a Scarlett Johansson ao tomar banho, bem, é algo com contornos de um universo só seu. Na sua mente. Particularmente ligado ao seu id.
- Legal.
- Não notamos a beleza dentro de nós. A vida, e a vida que explode em um novo universo ao morrermos, é surreal. O desconhecido é fascinante. Cada sonho, um mundo diferente, tomando vida própria. Cada pesadelo, a agonia do peso da nossa inventividade, a fábrica de universos dentro da nossa massa cinzenta - que na verdade é rosada. Uma ironia, de fato.
- O que está acontecendo com meus universos cerebrais, agora?
- Quando disse estarem eles adormecidos, significa que estão em outro espaço-tempo, mas atados a você. As personagens de lá seguem seus rumos. E, assim como sua ex vive em outra realidade, não só nas que você criou, você também tem um reflexo em outros. Tendo uma vida diferente. Somos multifacetados, e somos muitos no multiverso.
- As coisas estão coloridas e girando. Cara, você parece estranho. Eu me sinto estranho. Dentro de um caleidoscópio, com Lucy esperando por mim no céu.
- Outro universo, outras regras. A física é outra. Só livre quando você morrer.
- E quando vai ser isso?

Casos de suicídio em série têm um fim
Nessa sexta-feira, um caso peculiar foi resolvido. Um homem, por volta dos 30 anos, sem identidade reconhecida, levava pessoas sem padrão determinado a lugares diversos, como quartos de hotel à beira de estrada, após um coquetel de inúmeras drogas - como, por exemplo, LSD. O homem não matava as vítimas: ele, de alguma forma, induzia-as ao suicídio, talvez facilitado pelos alucinógenos tomados pelos escolhidos por ele.
Sua 42ª e última vítima, de 24 anos, morador do bairro Meireles, aqui em anônimo por vontade da família, foi encontrada enforcada por um cinto em um hotel. Havia escrito na parede, com seu sangue e sua caligrafia, a frase "que eclodam meus universos".
O criminoso, ao ser pego pela polícia, ateou fogo a si mesmo, queimando consigo a viatura que o levava e tirando a própria vida. Não houve feridos.

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