2.7.09

já dizia epicuro:

Por que ter medo da morte? Enquanto somos, a morte não existe, e quando ela passa a existir, nós deixamos de ser.

Desculpe, meu caro Epicuro, mas não pretendo 'deixar de ser' tão cedo. Prefiro adiar essa data, e continuar com medo dela, obrigada.

13.6.09

silêncio.

O silêncio é um som assustador.

O silêncio constrange. O silêncio é transparente e nos faz sentir transparência também. Ele percebe a confusão que há dentro de nós e quer nos ler.

O silêncio é perturbador. Ele deseja que pensemos, e pensar nem sempre é bom. O silêncio é reflexivo e ajuda a escutarmos o que vem de dentro de nós. Ele esclarece, e descondensa a cabeça.

O silêncio repreende, principalmente quando chega de súbito. Acaba por nos surpreender. Mas ele não é mal intencionado.

O silêncio é tão estranho, e, quando na hora certa, tão acolhedor. Aconchega nossa alma.

Eu acho que gosto do silêncio. Ele me faz companhia quando eu estou sozinha.

O silêncio é um som completo.

10.6.09

histórias.

Sou uma
criadora de histórias.
Na minha mente
há fantoches,
a realidade
ganha retoques.
Por eu ser uma
criadora de histórias.
A mescla de acontecimentos
acontece,
e a rotina
desaparece.
Controlo,
por eu ser uma
criadora de histórias.
Por que tenho tal caráter
de mera
criadora de histórias?

Sou uma
criadora de histórias.
Não por opção.
Histórias estouram,
chegam,
sem permissão.
Posso eu um dia
viver histórias,
e não
criá-las?

5.6.09

ops.

Nasci no lugar errado,
no tempo errado,
com as ideias erradas.
E eu gosto disso.

26.5.09

equação.

diversão = sentidos - razão
insanidade = sentidos - razão
diversão = insanidade

Comprovação matemática de como a insanidade é positiva. E pertence aos inteiros.

Pobres racionais.

14.5.09

precisa-se de espelho.

Gêmeas idênticas, personalidades opostas. Mesmo na inocência de seus cinco anos, era evidente para ambas que eram bem distintas uma da outra. A mais velha (ainda que por poucos minutos) caracterizava-se por ser uma peste - comprovado desde o dia em que colocara detergente transparente num copo onde sua mãe bebia água. A outra, porém, era doce e delicada. Amava Barbies com quase idolatria e era incrivelmente tola. As duas meninas eram tratadas igualmente, com exceção nos dias em que Juliana aprontava uma travessura de proporções muito grandes.

Naquele dia, a mais nova apareceu chorando, como se sua casinha de bonecas estivesse em chamas. Sua irmã gêmea estava saltitando, radiante, pelo apartamento. O contraste de humor era sempre presente nelas, mas não de forma tão clara. As lágrimas saiam dos olhos de Sofia com rapidez e intensidade, as grossas lágrimas de uma provocava as risadas da outra.

A infeliz da babá não conseguiu conter o choro da menininha. "Vai acordar sua mãe, Sofia!". Não adiantava em nada. A pobre criada não era formada em psicologia infantil para acalmá-la. Então, a mãe acordou, devido a baderna que Juliana fez propositalmente em seu quarto. Vendo sua outra filha chorar, a abraçou e perguntou com ternura o que acontecera.

Sofia respirou fundo e disse, em tom que inspirava pena:

- A Juliana me chamou de feia!

13.5.09

chá.

A chama saiu então da boca do fogão, aquecendo a água que estava em uma panela.


A noite encontrava-se fresca e agradável, pingos de chuva batiam suavemente contra o vidro da janela. Com exceção da cozinha, onde eu me localizava, a residência estava silenciosa, de forma pacífica.


Ponho a xícara sobre a mesa. Onde está o açucareiro? Não está no lugar usual.


Andando pelos ladrinhos da cozinha, sentindo o frio acolhedor do piso nos meus pés descalços. Uma brisa atravessa o cômodo, e noto o quão feliz estou. Por que estou feliz? Não sei. Para que quero saber por que estou feliz? Não sei. Estar feliz sem motivo é considerado algo bom, na maioria dos casos.


Aqui está o açucareiro! Estranhamente, dentro da geladeira. Não penso sobre isso, somente coloco duas colheres de açúcar dentro da xícara vazia.


Percebo que estou cantarolando uma canção qualquer. Sorrio com a ideia de que estou com um bom humor. Nada de extraordinário aconteceu, e, mesmo assim, a leveza de meu espírito impressiona.


Droga, não tem nenhum saquinho de chá. Vou usar canela em pó, então.


Pergunto a mim mesma se não estou feliz por ter terminado de ver um filme em que todos terminam bem ao fim. Era um filme bem banal, verdade. Não, não foi por causa do filme. Eu já estava alegre antes de vê-lo.


As bolhas que se desprendiam do fundo da panela até a superfície denunciavam que a água já se encontrava devidamente fervida. Apago o fogo da boca do fogão.


Talvez seja o clima que me deixa assim, pensei. Não senti calor nenhuma vez durante todo o dia. O céu estava nublado, o cheiro do ar emprestava algo campestre para plena Fortaleza. É, talvez seja o clima.


Despejando a água quente na xícara, admirando a fumaça que saia dela. A quantidade exata de canela em pó foi posta na água. A colher faz um som ao misturar o conteúdo da xícara.


Sorrio diante da xícara de chá. Está uma delícia.